Leia o curioso artigo dos bastidores MC e saiba mais sobre o perfil profissional do revisor de textos
Convém dizer, para início de conversa: tarefa por vezes ingrata, a do revisor. Os méritos de uma obra coesa e bem redigida recaem, de modo geral, sobre o autor — ou, em alguns casos, sobre o tradutor ou o editor. Já aquele erro gramatical crasso na página 227, bem, a culpa é toda do revisor desatento, não é mesmo?
A exemplo de tudo o mais na vida, nada é tão simples. E se o material que chegou às mãos do revisor contivesse tantas falhas que aquela da página 227 foi justamente a única que ele, já exausto de indicar dezenas de erros no texto, deixou passar? Nesse caso hipotético, sem o revisor, o resultado talvez fosse nada menos que trágico.
O que queremos dizer?
Isto: no processo de criação de um livro, cada parte envolvida tem a sua responsabilidade. É evidente que as funções não são estanques, e todos os profissionais podem, e devem, apontar problemas que não necessariamente sejam da sua alçada.
Em termos gerais, podemos dizer que o autor (ou o tradutor) é responsável por produzir o texto, o editor (ou o preparador) é responsável por recomendar melhorias a esse texto, e o diagramador é responsável por arranjá-lo visualmente no formato adequado à impressão, a chamada prova tipográfica.
É então que entra em cena o revisor.
A essa altura, supõe-se que todas as questões textuais relacionadas a coesão, coerência e fluência já estejam resolvidas. Não é este o momento, por exemplo, de sugerir mudanças na ordem dos capítulos, no estilo de redação ou mesmo na escolha de vocábulos. Cabe ao revisor, agora, atentar para possíveis erros ortográficos e tipográficos, ajustar as últimas arestas referentes às normas e aos padrões da editora, e, somente na eventual ocorrência de deslizes redacionais, sugerir alternativas de texto.
Uma implicação começa a se mostrar: em condições ideais (ou irreais?), em que os profissionais anteriores no processo executassem suas tarefas de modo irretocável, a função do revisor seria dispensável.
Daí a importância do revisor. Permitam-me a comparação futebolística: ainda que todo o sistema defensivo — volantes, zagueiros, laterais — de um time falhe, lá está o goleiro, a última barreira a ser transposta.
É verdade que nem o melhor dos goleiros conseguirá resistir aos ataques adversários caso o restante da equipe não o guarneça, mas entrar em campo sem ele não é nada recomendável. Na verdade, é uma completa imprudência. Que atributos, então, deve ter um bom goleiro, digo, um bom revisor? Destaco três características essenciais:
1) Domínio pleno da língua portuguesa.
Requisito básico. Sejamos francos: se não tiver conhecimento amplo das estruturas da língua, incluindo elementos como concordância, pontuação e regência, o revisor pode muito bem procurar outra profissão.
2) Sensibilidade textual.
Não é o texto que se ajusta às normas do revisor, mas o revisor é que se põe à disposição do texto. Em outras palavras, preferências de conteúdo, de estilo e até de gramática devem subordinar-se à voz que o autor deseja imprimir ao livro. O revisor não é coautor nem editor, e não é o número de suas intervenções que determina um bom trabalho. Às vezes é exatamente o oposto.
3) Dinamismo profissional.
Isso se aplica a qualquer função nesse complexo processo de criação de livros, mas nunca é demais dizer que, na realidade editorial de hoje, é fundamental conciliar excelência de serviço e cumprimento de prazos.
Feliz é a editora que pode confiar em seus revisores.
Encerro este breve artigo com uma nota pessoal. Atuando como editor de livros da Mundo Cristão, tive o privilégio de acompanhar o trabalho de revisores da mais alta categoria, e muito aprendi com eles. Entre editor e revisor cria-se um relacionamento de amizade: nem sempre acatamos os conselhos de nossos amigos, e às vezes discordamos deles abertamente. Se há confiança, porém, e se um propósito maior os une, essa amizade promoverá o crescimento de ambos, para o bem do livro e, sobretudo, do leitor. Se encontrar um revisor por aí, não hesite em agradecer-lhe. Os melhores costumam ser discretos, mas merecem todo o nosso reconhecimento.
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