Saiba mais sobre o perfil e a importância desse profissional no mercado editorial
Transformar uma ideia em livro não é fácil. É um processo que exige tempo, dedicação, pesquisa, paciência, talento, inspiração e transpiração.
Um tipo de livro, em especial, demanda um olhar diferenciado: quando o autor tem o conteúdo em mente,
mas não dispõe do tempo ou das habilidades necessárias para sentar e escrever o texto por conta própria.
Para ajudar a viabilizar a realização de uma obra desse tipo de autor, as editoras contam com um personagem bastante comum no mundo literário: o ghostwriter.
Ghostwriter significa, literalmente, “escritor fantasma”, pelo fato de ele realizar um trabalho que permanece anônimo para o leitor.
É aquele profissional que possui os talentos requisitados para entrevistar o autor do livro,
coletar com ele as informações necessárias e redigir com o conteúdo obtido um texto adequado para uma obra literária.
Assim, se o autor não consegue, por alguma razão, sentar e escrever o texto do livro que pretende publicar,
o ghost (como é mais conhecido nos bastidores das editoras) é a pessoa que fará seu texto se tornar realidade.
O ghost, via de regra, recebe um pagamento pré-determinado pelo seu serviço (e não royalties pela venda de exemplares), e seu nome não consta como autor do livro.
Por essa razão ele é “fantasma”, uma vez que permanece invisível ao leitor. Seu nome não aparece na capa nem o profissional recebe crédito de autoria,
visto que ele é um facilitador para a concretização do texto e não a pessoa que gerou o conteúdo.
No mercado editorial em geral, uma enorme quantidade dos livros que você vê nas livrarias foram escritos, na verdade, por ghostwriters.
Atualmente, com a febre de obras de youtubers, por exemplo, pode ter certeza de que a maioria das que você encontra por aí foi escrita por um ghost, além de muitas das autobiografias.
Mas, em se tratando de livros cristãos, não é muito comum a publicação de livros viabilizados pelo trabalho de ghosts: em meus oito anos de experiência como editor, editei apenas duas obras escritas por ghostwriters, duas biografias.
Geralmente, o ghost é um jornalista,
que tem o preparo e a experiência necessários para realizar entrevistas e redigir textos com atenção à estrutura, ao encadeamento de ideias e a algo que é importantíssimo: o cumprimento de prazos.
Nesse sentido, jornalismo é a carreira que mais gera profissionais de ghostwriting, por preparar pessoas acostumadas a uma rotina de prazos rigorosos, entrevistas e redação de textos claros e com conteúdo relevante.
Um bom ghost precisa ser uma pessoa paciente, para, a fim de realizar as entrevistas, aguardar com tranquilidade um espaço vago na agenda — geralmente cheia — do entrevistado.
Também tem de ser alguém que consiga extrair do autor as melhores e mais relevantes informações para a viabilização da obra, algo que nem sempre o autor sabre selecionar.
Por isso, o bom ghost sabe conduzir as entrevistas de modo a extrair do autor as informações relevantes para o livro sem permitir que ele se perca em digressões.
E, uma vez que as entrevistas estejam concluídas,
ele necessita ter a capacidade de visualizar a melhor forma de pôr as informações no papel, propondo, por exemplo, a melhor estrutura de capítulos,
seções adicionais e recursos de fixação, a fim de dar o menor trabalho possível ao editor responsável pela obra.
Porém, um aspecto é muito importante e o ghost precisa tê-lo sempre em mente: um livro não é uma reportagem.
Por essa razão, ele deve ter atenção à beleza e ao lirismo do texto, ao melhor encadeamento de informações, à cadência, à fluência da narrativa e aspectos similares.
Afinal, a editora espera que ele entregue um texto que, muito mais do que apenas transmitir informações,
seja cativante, atraente, agradável de ler e prenda a atenção do leitor. Portanto, o ghostwriter tem de ser um ótimo escritor.
Nós, cristãos, não acreditamos em fantasmas.
Mas preciso reconhecer que o universo literário deve muito aos fantasmas que escrevem livros,
sem levar o reconhecimento por seu trabalho e dando uma importante contribuição para autores, editoras e leitores.
Fantasminhas, a vocês nosso muito obrigado!
Maurício Zágari
Editor de obras originais
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