Silvia Justino, gerente editorial, esclarece a questão em artigo escrito para os “Bastidores MC”
Você já se perguntou por que aquele best-seller lançado há alguns anos já não está disponível nas livrarias? Tem curiosidade de saber por que um livro deixa de ser publicado?
Se você já ficou triste porque não conseguiu presentear a seus amigos com um de seus livros prediletos — ou simplesmente quer saber mais sobre os bastidores do mercado —, acompanhe o artigo escrito por Silvia Justino, gerente editorial da MC. Nele, a profissional compartilha informações sobre o processo de renegociação de direitos autorais e pontua questões importantes que se conjugam no relançamento ou não de uma obra. Confira!
Relançamento: um desafio constante
Muitos leitores nos questionam por que não relançamos livros publicados no passado ou não reimprimimos livros esgotados. Apesar de frustrante, entendemos, nem sempre é tão simples ou mesmo possível recolocá-los no mercado. E por várias razões.
O relançamento implica, em primeiro lugar, renegociação dos direitos autorais. Talvez o leitor ou a leitora se pergunte: mas, se a editora lançou no passado, ela já não tem os direitos de publicação? Nem sempre a resposta é sim. Um contrato de aquisição de direitos tem, normalmente, prazo de vigência, que, expirado, pode ou não ser renovado. E aqui temos algumas questões a considerar.
Direitos autorais são em geral negociados — diretamente ou por meio de agentes literários, no Brasil ou no exterior — com editoras estrangeiras, com um ou mais autores (ou seu espólio), com ministérios ou ONGs. O processo nem sempre é simples, especialmente quando envolve diferentes interesses, que podem levar o detentor dos direitos a optar pela extinção do contrato.
O outro lado da mesa de negociação é ocupado pela adquirente dos direitos autorais em língua portuguesa. E aqui vale trazer algumas reflexões. A dinâmica mercadológica, financeira e social é um fator importante. São muitos os desafios que dificultam a (re)publicação de algumas obras.
A renovação pode se tornar inviável quando, por exemplo, o desempenho da obra não atinge as expectativas de distribuição e vendas, o que potencializa o risco financeiro em uma eventual renovação. Vamos entender isso um pouquinho melhor mais adiante.
Ela também pode se tornar inviável quando a renegociação do contrato não atende a critérios mínimos aceitáveis para uma das partes, ou para ambas, ou quando são exigidas grandes somas de advance (adiantamento de direitos autorais) ou altos percentuais de royalties. Isso não só eleva o risco como puxa para cima o preço final do livro.
Outro impedimento para a renovação pode ser a disponibilidade de obras de mesma temática mais afinadas com a realidade vigente. Claro que esse ponto não se aplica a obras clássicas. Essas são um capítulo à parte. Nosso foco, aqui, está em obras que abordam temáticas sensíveis a nosso tempo, mas escritas no passado, não necessariamente muito distante. O dinamismo na tratativa e no entendimento de determinadas questões pela sociedade e pela igreja é um dos fatores que contribui para a rápida obsolescência de obras dessa natureza, que muitas vezes não ganham novas edições revisadas, atualizadas e/ou ampliadas.
Mas existe ainda outra razão que dificulta relançamentos e reimpressões de algumas obras. A inviabilidade financeira. O mercado editorial brasileiro se vê às voltas com muitos desafios, não só advindos das consequências de dois anos de pandemia mundial, mas de uma turbulência iniciada alguns anos antes com a insolvência de importantes players.
A consequente retração do mercado e o crescente aumento dos custos gráficos, capitaneados principalmente pelo recorrente aumento do preço do papel, para citar apenas os mais evidentes, exigiram entre outras coisas a redução das tiragens, sobrecarregando os custos de produção. Assim, livros com grande volume de páginas e pouco giro tornaram-se financeiramente inviáveis, uma vez que o mercado não conseguiria absorver o preço final ao consumidor.
A esta altura talvez você esteja pensando: ok. Mas então por que não relançá-los apenas no formato digital? Não há impressão, certo? Certo. Mas — sempre há um más — voltamos às questões contratuais. A maioria dos contratos exige que a obra seja publicada no formato físico. Não só digital. O que nos leva de volta ao primeiro ponto.
Esse pano de fundo tem sido alvo de constantes preocupações para editoras, autores, gráficas e toda a cadeia produtiva. Mas nem tudo são más notícias. Cientes da necessidade de manter disponíveis obras importantes e que fazem toda diferença para a igreja e a sociedade, buscamos equilibrar nossas publicações, (re)lançando um percentual anual de obras que, embora não satisfaçam todas as exigências normalmente requeridas, entendemos serem fundamentais para o público leitor.
Infelizmente, não conseguimos (re)lançar todas as obras que gostaríamos, mas certamente nos esforçamos por disponibilizar para nosso leitor e nossa leitora livros que inspirem transformação de vida, em nível pessoal e coletivo.
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