Confira nossa entrevista com Clayton Heringer, diretor artístico da Tocalivros
Sim, sabemos que você clicou aqui porque é apaixonado por livros! É por isto que a seção bastidores existe: para trazer o que há de melhor em conteúdo sobre o mercado editorial e o universo da leitura.
A seguir, você confere nossa entrevista com Clayton Heringer, produtor artístico da Tocalivros, ator, diretor teatral e professor de teatralização. No bate-papo, Clayton compartilha informações sobre a produção e a venda de audiolivros no Brasil, conta curiosidades dos bastidores e deixa dicas importantes para quem deseja atuar na área, seja como narrador ou técnico de gravação. Confira!
Mundo Cristão: Como está o consumo de audiolivros no Brasil?
Clayton Heringer: O consumo cresce cada vez mais. Mesmo sendo os primeiros passos em comparação ao mercado externo. Nos EUA, por exemplo, essa modalidade editorial é crescente desde o fim da década de 80. Aqui, estamos em franca expansão, pois temos muito a produzir e ouvintes a alcançar.
De que forma o leitor pode ser beneficiado com essa possibilidade de consumo?
A otimização do tempo é o grande benefício do audiolivro. Já que, especialmente nas grandes cidades, passamos longos períodos no trânsito. Além disso, é uma opção para o entretenimento na academia ou em meio às tarefas diárias. Com o audiolivro, podemos adquirir conhecimento enquanto executamos outras atividades.
Além disso, o audiolivro é uma grande ferramenta educacional e pode ajudar, inclusive, pessoas que apresentam distonia na leitura, dislexia ou deficiência visual. Aqueles que querem ser “mais leitores” e têm dificuldade de concentração podem encontrar nele um aliado. O audiolivro também facilita a vida de quem já é leitor, tornando-se um meio eficaz para que mais obras sejam ouvidas em pouco tempo. Enfim, o audiolivro é para todos os gostos!
E o processo de produção, como é? Quais são os principais cuidados que garantem o êxito de um lançamento?
Na Tocalivros, focamos no entendimento e na produção das obras para o público brasileiro. Temos em mente a forma de falar entres os “Brasis plurais”, essa mistura maravilhosa ibérica-indígena-africana e de outras mais nações que compõem nossa fala. Temos uma forma única de comunicar e de entender a narrativa no contexto de nosso país e cultura, levando em conta sua multiplicidade de tons e sotaques.
Todo título passa por uma pré-produção. Lemos a obra, a classificamos em sua complexidade, analisamos sua estrutura, observamos a fonia das palavras, a pontuação e a forma que será conduzida a direção com o narrador. Não medimos esforços para colocar mais de uma voz, trilha ou efeitos sonoros, caso a obra assim necessite.
A edição é feita de modo quase artesanal, trabalhando cada vírgula, respiração e qualidade de captação. Esse cuidado é essencial para que tudo entre em sintonia. Produzir um audiolivro não é fácil. Pular alguma etapa, contudo, resulta em um produto sem brilho, sem vida.
Quando se fala em audiolivro a seleção do narrador ou da narradora é muito importante. Como é feita a escolha de uma voz?
Esqueçam a glória do timbre, o “veludo da voz” ou até mesmo padrões estereotipados. Em nossa concepção, o narrador da Tocalivros é um profissional da voz, um apaixonado por leitura e conhecimento, não necessariamente alguém com uma voz tida como “modelo”.
A seleção começa com os testes dirigidos. Um banco de voz com mais de 50 narradores que são classificados por temperamento interpretativo. Como lidamos com diversos profissionais, de distintas formações — jornalistas, atores, atrizes, radialistas e por aí vai — é natural que cada um traga seu estilo próprio de narrativa, alguns mais versáteis; outros mais fechados. Nessa classificação, sabemos qual narrador vai dar vida a determinada obra. A escolha é feita em parceria com as editoras e com os narradores, buscando elencá-los para narrar obras com as quais se identifiquem.
Falemos de curiosidades: há alguma constante nos bastidores que os leitores certamente gostarão de saber?
No caso da Tocalivros, narrador acaba fazendo parte da família, devido ao longo tempo que passamos juntos, gravando e elaborando processos artísticos. São muitos cafés!
E como resolver a polêmica: Quem escuta um audiolivro é um “leitor” ou um “escutador”? Aliás, quem prefere apenas escutar audiolivros pode ser considerado um leitor?
Estamos devolvendo ao leitor o princípio da narrativa: escutar uma história, a voz humana. Como na obra Fahrenheit 451 (Ray Bradbury), na qual os ouvintes eram leitores de um mundo em que livros eram queimados. Nele, só sobrava a voz humana e uma grande memória para decorar aquilo tudo (risos). Lemos para nossos filhos, lemos para o público nos palanques, nos templos, nas praças. Ao ouvir, o ouvinte lê. Sim, quem escuta é também um leitor!
Quais são os perfis profissionais mais requisitados para quem deseja trabalhar com audiolivros?
Na parte técnica, uma pessoa envolvida com a leitura e que tenha conhecimento em captação e edição de som, mixagem e masterização. Formação em artes ou comunicação pode ajudar, já que lidamos com um trabalho plural.
E para quem deseja ser narrador?
Um profissional de voz, ator, jornalista, radialista ou que atue em áreas afins. É importante que a pessoa tenha uma vivência intima com a leitura, que tenha gosto por ler e habilidades técnicas.
Uma mensagem aos leitores, especialmente àqueles que ainda não conhecem o universo dos audiolivros.
Escutem! Deem uma chance ao que, no início, pode parecer difícil ou estranho. Pouco a pouco, o cérebro se acostuma com essa modalidade de leitura, permitindo que ouçam muitos livros com praticidade e conforto. Tenho certeza de que aí vai ser difícil deixar de ter um audiolivro à mão, ou melhor, nos ouvidos!
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