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O legado espiritual e literário de C.S. Lewis

Uma entrevista com Gabriele Greggersen, autoridade brasileira em estudos sobre o autor

Pode ser que você já tenha ouvido ou lido sobre C.S. Lewis, mas não saiba bem ao certo os motivos que o fazem ser tão citado e admirado. É provável que tenha ficado curioso para folhear uma de suas obras, porém, por não ter informações suficientes, decidiu esperar um pouco mais para se aventurar em uma leitura. Aliás, não é difícil que tenha notado quantos livros dele são relançados ano após ano! Diante disso, pode ter indagado: por que a vida e a obra de C.S. Lewis atraem a atenção de tanta gente? Qual foi a sua contribuição para a literatura e o cristianismo? Onde poderia encontrar informações basilares, porém suficientes, para iniciar uma jornada de leituras de seu variado acervo?

Para ajudá-lo a sanar estas questões, e para celebrar o relançamento da biografia A vida de C.S. Lewis: Do ateísmo às terras de Nárnia, que chega às livrarias pela Mundo Cristão, conversamos com Gabriele Greggersen, acadêmica com vasta experiência na área da educação, tradutora, autora e uma das principais autoridades em C.S. Lewis no Brasil.

Na conversa, Gabriele compartilha curiosidades sobre a vida, o legado e a fé desse importante ícone da literarura, comenta sobre os motivos que fazem dele um autor a ser revisitado em nossos dias e sugere um roteiro para quem deseja empreender a fascinante leitura de suas obras. Confira!

Mundo Cristão: Por que C.S. Lewis é um nome importante na história da literatura?

Gabriele Greggersen: C.S. Lewis é um nome importante na literatura não apenas por ter recebido prêmios pelos seus livros, particularmente as Crônicas de Nárnia, ter sido capa da revista Time com o seu Cartas de um Diabo a seu aprendiz e por suas obras fazerem parte de listas de livros recomendados nas escolas. Ele também tem sua relevância devido ao seu ecletismo e abrangência em gêneros literários nos quais contribuiu.

Lewis escreveu poesia, ficção científica, fantasia, cartas, abordando as áreas de literatura, educação, filosofia e teologia. Particularmente na área de literatura, ele escreveu livros que foram divisores de água como English literature in the sixteenth century (Literatura inglesa do século XVI), A imagem descartada, A alegoria do amor e Preface to Paradise Lost (Prefácio ao Paraíso Perdido), lançados ou em produção no Brasil pela editora É-realizações.

Também escreveu Um experimento na Crítica Literária (Fundação editora Unesp), que revolucionou essa área da literatura. Ele é considerado um dos autores mais citados de todos os tempos, por cristãos e não cristãos, no mundo da cultura popular e erudita, áreas essas normalmente separadas por um abismo de dicotomias.

Quais são as principais características das obras de C.S. Lewis? E por que elas seguem cativando tantos leitores ao longo dos anos?

Acredito que a principal característica de suas obras, abrangendo todos os gêneros em que ele escreveu, seja a sua capacidade de unir a razão à imaginação, enriquecendo suas reflexões com diálogos, metáforas, exemplos do cotidiano, descrições concretas, frases proverbiais e analogias. Seus escritos também se destacam pela honestidade, sinceridade e simplicidade com que ele encara os dilemas mais complexos da humanidade, como a questão do mal, da dor e do sofrimento.

Esse estilo sincero e direto, cheio de metáforas bem-humoradas é o que cativa os leitores até os dias de hoje. A sensação que se tem constantemente ao ler as suas linhas é que sempre se pensou o que ele está dizendo, sem nunca se ter conseguido colocá-lo nos mesmos termos tão brilhantes. É uma espécie de déjà vu.

Por que C.S. Lewis deve ser um autor revisitado pelos leitores do século 21?

Acredito que Lewis deve ser revisitado pelos leitores de hoje porque as críticas que ele faz à modernidade continuam atuais na pós-modernidade, já que os problemas como o racionalismo, o materialismo, o subjetivismo e o individualismo só se aprofundaram com os anos. O pós-modernismo, como o próprio nome diz, não trouxe nada de novo, apenas renovou as bases do paradigma já existente, sem trazer muitas novidades revolucionárias em relação ao período anterior.

Outro motivo para revisitar C.S. Lewis no século 21 é o fato de ele tocar em questões essenciais e universais, que atravessam todos os tempos e dizem respeito a toda a humanidade, independentemente do tempo, espaço e cultura. Temas como a fé, o amor em todas as suas formas, os milagres e o sofrimento são constantes em toda a sua obra.

Também, como bom anglicano, ele não toma partido nessas questões, dando respostas sem fechá-las e mantendo sempre a abertura para o mistério e para a tensão entre opostos, sem recair em dualismos. Teologicamente, também como bom anglicano, ele foca na essência da fé e do evangelho, que é a encarnação, paixão e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Sem essa base, nossa crença perde todo o sentido.

Recentemente, a Mundo Cristão relançou a biografia A vida de C.S. Lewis: Do ateísmo às terras de Nárnia. Quais aspectos de sua caminhada de fé podem ser especialmente edificantes para os leitores?

Acho que o seu histórico de perdas e privações é bem marcante para o leitor que já vivenciou situações semelhantes. Um dia eu perguntei a um apreciador de sua obra, qual o livro de que ele mais gostava, e qual não foi a minha surpresa quando ele disse: Anatomia de uma dor. Eu estranhei, porque se trata de um dos livros mais cáusticos de Lewis, escrito logo após a morte de sua amada Joy, em que ele se refere a Deus como carrasco divino e como celestial cirurgião dentista. Seu estilo de colocar Deus no banco dos réus é tão incisivo que muitos têm a impressão de que ele perdeu a fé após o trauma. Quando eu perguntei ao amigo, porque ele escolheu um livro tão controverso e pesado, ele me disse que foi porque ele acabara de perder o seu pai e que o livro o ajudou a não perder a sua fé.

A história de vida de C.S Lewis se entrelaça com suas obras, tornando-as vivas e vivenciais. Fica até difícil de dizer se a obra dele reflete sua vida ou se a sua vida reflete a obra.

Quais dicas daria para quem deseja iniciar uma jornada de leituras de obras de C.S. Lewis?

Primeiro, eu diria para o leitor deixar de lado todos os preconceitos e fundamentalismos e enfrentar as obras de peito aberto, dando espaço ao que o Espírito tem a dizer através da pena de Lewis. Depois, eu começaria por Abolição do Homem, um livro sobre educação, que fala do que todas as culturas têm em comum: o Tao [Lei da Natureza ou Lei Moral, segundo a filosofia] Nesse livro, ele também faz uma crítica ao subjetivismo e àqueles a quem chama de manipuladores, que querem ditar o que seja real e o que seja ficção.

A crítica à modernidade é a mesma que vemos em Cristianismo Puro em Simples, que eu sugiro ser lido em seguida e em paralelo com as Crônicas de Nárnia, pois as questões teológicas e filosóficas abordadas através da imaginação são tratadas teoricamente no clássico.

Depois, ir para Cartas de um Diabo a seu aprendiz, para O Problema do Sofrimento ou O grande abismo, ou enfrentar O Regresso do Peregrino, sempre junto com uma boa biografia, como a de Alister McGrath (A vida de C.S. Lewis) ou Colin Duriez (O dom da amizade) ou David Downing (O mais relutante dos convertidos).

No entanto, qualquer que seja a sequência que o leitor escolher dos demais livros, sugiro conhecer sua biografia antes de ler Anatomia de uma Dor. •

Clique aqui e conheça o perfil e o blogue de Gabriele Greggersen: CSLewis.com.br – Nas pegadas de Aslam.

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Leia também:

De volta às livrarias: “A vida de C.S. Lewis”, biografia escrita por Alister McGrath!

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