“A cada manhã o presidente [dos Estados Unidos] recebe um boletim apontando as vulnerabilidades mais diversas que assolam a nação. O que aconteceria se esse boletim fosse publicado com todos os detalhes terríveis?”
A seguir você lerá uma reflexão proposta por Andy Crouch em seu livro Quando sou fraco, sou forte: Um caminho surpreendente para a realização pessoal. Na obra, o jornalista e teólogo convida o leitor a revisar seus critérios de autoavaliação e ver que o desenvolvimento pessoal vai além do esforço particular e solitário: ele envolve pessoas e é fruto da comunhão com Deus, do reconhecer no outro a imagem do Criador, do servir com humildade e excelência, no amar verdadeiramente, com os respectivos riscos e benefícios.
Por meio de um texto instigante, ele toca em temas caros da experiência humana: a questão do sofrimento, a tendência à fuga para zonas de conforto, a injustiça e o pecado. Com clareza e objetividade, auxilia o leitor a enxergar a realidade a partir de um quadro mais amplo, a dar um basta na letargia, para ter resultados significativos. O fruto é a verdadeira realização.
Para ler a resenha da obra, clique no link a seguir:
Quando sou fraco, sou forte, escrito por Andy Crouch, um livro cristão sobre desenvolvimento pessoal
No trecho a seguir, extraído do capítulo intitulado “Vulnerabilidade oculta”, Andy aponta a necessidade de o líder expor seus pontos fracos àqueles que realmente têm capacidade de digerir tal informação e real possibilidade de ajudá-lo.
No livro, o autor aprofunda a reflexão, dá exemplos da própria vida e partilha outros casos reais. Ele também analisa como o Senhor Jesus lidou com a vulnerabilidade oculta e a importância dos amigos para que essa realidade da liderança se torne desenvolvimento pessoal.
Ao final da reflexão, você encontrará os links para adquirir o livro nos formatos impresso e digital. Boa leitura!
Vulnerabilidade oculta
Por Andy Crouch em Quando sou fraco, sou forte
O documento com a maior classificação de segurança nos Estados Unidos é denominado Boletim Diário do Presidente. Esse documento é normalmente entregue pelo diretor nacional de inteligência em pessoa ao presidente a cada manhã. É um resumo das informações mais críticas obtidas pela vasta rede de agências de inteligência do país nas últimas 24 horas.
De todos os boletins preparados desde que essa prática teve início em 1961, apenas duas páginas foram liberadas ao público — um texto com o título “Bin Laden está decidido a
atacar os EUA”, que foi apresentado ao presidente em 6 de agosto de 2001.
Cada manhã, o presidente ouve um relato direto e detalhado de todas as ameaças ao país. A seguir vem o restante da agenda: cerimônias, reuniões, ligações telefônicas, as ocasionais entrevistas públicas com a imprensa e jantares de Estado. Em tudo isso, o presidente fica informado de coisas que quase ninguém mais sabe com o mesmo grau de detalhes. E sobre todo esse conhecimento perturbador e terrível, o presidente não pode falar absolutamente nada.
O drama da liderança é a vulnerabilidade oculta.
Em muitos tipos diferentes de desenvolvimento pessoal, vemos autoridade e vulnerabilidade juntas, isto é, podemos realmente ver e perceber as duas coisas. Quando vemos um grande músico se apresentando ou um grande atleta competindo, podemos ouvir a admirável complexidade da música ou ver o competidor em ação. Nossa admiração procede de nossa percepção aguçada, não somente da autoridade dos que se apresentam, mas de sua vulnerabilidade também.
Às vezes, porém, o desenvolvimento pessoal vem com vulnerabilidade invisível, especialmente em liderança. Quase por definição, líderes possuem autoridade evidente; mas, quase por definição, também levam consigo uma vulnerabilidade que ninguém vê.
Eles podem ter informação mais completa do que aqueles a quem lideram — como o presidente dos EUA depois do boletim da manhã. Podem, simplesmente, dispor de uma percepção e intuição mais profundas dos desafios que eles e suas organizações enfrentam. É isso o que significa ser um líder: carregar os riscos que somente você pode ver, enquanto continua a exercer a autoridade que todos veem. […]
[OLHO] “É isso o que significa ser um líder: carregar os riscos que somente você pode ver, enquanto continua a exercer a autoridade que todos veem.”
Andy Crouch
Vulnerabilidade comunitária
Por mais arriscada que seja, a vulnerabilidade oculta é muitas vezes necessária para produzir verdadeira transformação. A coisa mais importante para a qual fomos chamados é ajudar comunidades a encontrar sua mais profunda vulnerabilidade com a apropriada autoridade. Em outras palavras, ajudar nossas comunidades a viver na autoridade plena e na vulnerabilidade plena do desenvolvimento. E acontece que, a fim de fazer isso, devemos frequentemente carregar a vulnerabilidade que ninguém enxerga.
Existem dois tipos de vulnerabilidade que devem permanecer ocultas se tivermos de conduzir outras pessoas na direção do desenvolvimento pessoal. Em primeiro lugar, a exposição pessoal do líder ao risco deve, muitas vezes, permanecer muda, invisível e até mesmo não presumível por outras pessoas. Em segundo lugar, o líder deve carregar as vulnerabilidades compartilhadas que no momento a comunidade não tem autoridade para resolver.
A revelação de qualquer um desses tipos de vulnerabilidade resultará em distração, na melhor das hipóteses, e, no pior cenário, paralisará a comunidade pela qual o líder é responsável ao retirar dela a oportunidade de desenvolvimento real. Uma vez que a comunidade não possui autoridade — a capacidade de ação significativa — para lidar com essas vulnerabilidades, solicitar que a comunidade carregue essas vulnerabilidades somente a mergulhará ainda mais fundo no Sofrimento. […]
A cada manhã o presidente recebe um boletim apontando as vulnerabilidades mais diversas que assolam a nação. O que aconteceria se esse boletim fosse publicado com todos os detalhes terríveis? A verdade é que se todos nós soubéssemos, a cada manhã, aquilo que o presidente e seu diretor de inteligência sabem, a vida como a conhecemos se tornaria inviável.
Numa era de ininterruptas transmissões noticiosas e de redes sociais, até os eventos mais inexpressivos recebem atenção intensa. São realizados trinta mil voos comerciais diários nos EUA; mas se no meio disso tudo apenas um avião cair, toda a atenção se voltará para esse evento. Por que isso é assim? Não é por causa da perda de vidas, pois mais vidas são perdidas a cada dia em acidentes automobilísticos, sem falar das mortes por causas naturais. É porque acidentes aéreos são lembranças vívidas da vulnerabilidade, ainda que pequena, das viagens aéreas que são parte da vida de milhões de pessoas. […]
Imagine se a cada dia fôssemos expostos às ameaças credíveis à nossa segurança que são garimpadas diariamente pela vasta rede nacional de inteligência. Não há dúvida de que teríamos dificuldade em pensar ou em fazer qualquer outra coisa. A nação seria consumida pelo medo e, pior ainda, por preconceito, hostilidade e preparação irracionais.
Ainda que todos tivéssemos toda a informação que o presidente e seus assessores conhecem, haveria muito pouco em termos de ação significativa que a maioria de nós poderia realizar para impedir a ameaça. (Isso sem mencionar as novas ameaças que surgiriam pelo fato de informação sensível como essa ser dada publicamente.) Cairíamos de cabeça em Sofrimento, muito mais conscientes de nossa vulnerabilidade, mas não possuindo qualquer autoridade para enfrentá-la.
Enquanto isso, estaríamos distraídos dos lugares — lares, bairros, comunidades, negócios e organizações — onde temos um equilíbrio adequado de autoridade e vulnerabilidade e o verdadeiro chamado e capacidade de ação.
[…] se qualquer um de nós — e mais ainda aqueles que receberam a incumbência de liderar — demonstrasse completa transparência a respeito das dimensões da vulnerabilidade em nossa vida, nada mais seria feito. Seria o mesmo que se cada cidadão do país soubesse de cada ameaça ao bem-estar da nação. Se eu oferecesse a cada audiência minha um relato completo de minhas exposições à perda, tanto presentes e passadas como futuras, eu seria para essas pessoas nada mais que uma distração.
Uma coisa é certa: esses auditórios não têm nenhuma autoridade nessas vulnerabilidades — nenhuma capacidade de ação significativa para resolvê-las. Outros em minha vida têm
essa autoridade: meu supervisor, meus amigos, meus confidentes e minha esposa. Mas uma sala cheia de estranhos poderia apenas ouvir, com condescendência ou assombro, a
realidade de minha vida fracassada, e a mesma coisa aconteceria com qualquer outro palestrante.
[OLHO] “Uma coisa é certa: esses auditórios não têm nenhuma autoridade nessas vulnerabilidades — nenhuma capacidade de ação significativa para resolvê-las. Outros em minha vida têm essa autoridade: meu supervisor, meus amigos, meus confidentes e minha esposa.”
Andy Crouch
O poder da amizade, escrito pelo Dr. John Perkins
Existe, ainda, uma outra e mais profunda razão para que uma exposição infindável de vulnerabilidades pessoais se torne o oposto de liderança nesses tempos. Quando eu estou
falando, meu chamado mais profundo é o de ajudar a comunidade a carregar a vulnerabilidade da comunidade. Cada pessoa no auditório tem a sua própria ladainha de dificuldades, perigos e dúvidas. No entanto, para servi-los bem é necessário focalizar direta ou indiretamente aquelas realidades, não aquilo que me deixa preocupado naquele dia específico.
Nada disso quer dizer que os líderes, seja qual for seu contexto cultural, devam ser fortalezas inexpugnáveis de falsa autoridade. Certamente, não quer dizer que líderes nunca expõem suas comunidades à realidade dos riscos que eles mesmos enfrentam e às perdas que precisam carregar. Quer dizer apenas que quando líderes assumem riscos, incluindo o risco da exposição de si mesmos, eles o fazem para o benefício da autoridade e da vulnerabilidade apropriadas de outras pessoas. Essa é uma dimensão na qual a liderança é sempre um serviço: ela será sempre para o desenvolvimento pessoal de outros, não de si mesmo, e é sempre direcionada para a autoridade de outras pessoas, não da nossa própria.
Esteja certo disto: liderança transformadora ajuda as pessoas a ver e a trabalhar vulnerabilidade real. Os líderes, contudo, existem para contrapor essa vulnerabilidade, tanto quanto for possível, com autoridade proporcional. Assim, nosso trabalho é muitas
vezes o de elevar a autoridade de outras pessoas enquanto gradativamente, de forma proporcional e intencional, alertamos as pessoas sobre vulnerabilidades (inclusive as nossas próprias limitações, pontos fracos e cegueira).
Enquanto isso, devemos carregar a vulnerabilidade que os outros não veem e, às vezes, nunca verão. Vulnerabilidade oculta é o preço da liderança. Ou, como Max De Pree gosta de dizer: “Maus líderes produzem dor. Bons líderes carregam a dor”.
Sobre o autor:
Andy Crouch é mestre em Teologia pela Universidade de Boston. É associado da Praxis, organização que atua como um motor criativo para o empreendedorismo redentor, e é membro dos conselhos administrativos do Seminário Teológico Fulller e do Conselho de Faculdades e Universidades Cristãs. Foi editor e produtor na Christianity Today por mais de dez anos, e já teve textos publicados em veículos como The New York Times, The Wall Street Journal e a revista Time. Vive com a família na Pensilvânia, nos Estados Unidos.
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