Saiba mais sobre o assunto ao ler um artigo extraído do Comentário Bíblico Latino-americano
A seguir, você lerá um artigo extraído do Comentário Bíblico Latino-americano (CBLA), obra inédita cuja elaboração envolveu teólogos que representam diferentes nacionalidades, culturas e ministérios da América Latina.
O projeto inovador e de alta relevância para a igreja do Brasil e do continente revela a força e o vigor de uma teologia que alia ampla dimensão missionária e evangelizadora, honestidade intelectual, fidelidade ao texto da Palavra revelada e a mais rigorosa pertinência contextual.
Tendo como editor geral o teólogo equatoriano C. René Padilla (1932–2021), o CBLA reúne dezenas de artigos temáticos, aplicações para a vida diária, centenas de questões para reflexão e incentiva o leitor e a leitora a se aprofundarem no conhecimento da Palavra de Deus.
Israel, os hebreus e os judeus
Por Yohanna Katanacho, articulista do Comentário Bíblico Latino-Americano
Com frequência a palavra “Israel” é usada para referenciar tanto o Israel bíblico quanto o estado moderno de Israel. Igualá-los é um erro comum que nos impede de entender o texto bíblico de maneira apropriada e nos inibe a defender uma solução justa para o conflito árabe-israelense contemporâneo.
Por um lado, não cabe equivalê-los, já que se trata de épocas diferentes e, por outro, ignora complexidades importantes, de modo que os significados são sacrificados ao longo de várias fases do desenvolvimento histórico de Israel, em favor de uma compreensão fixa de Israel como nação.
Igualar israelenses a judeus suscita problemas. Mais de 20% dos cidadãos do estado moderno de Israel são palestinos. São israelenses, mas não judeus (da religião judaica). Alguns são cristãos, e outros são muçulmanos ou drusos. Além disso, há milhões de judeus em todo o mundo que não são israelenses, visto que têm diferentes nacionalidades mas praticam a religião judaica. Insistir em igualar o Israel bíblico com o estado moderno de Israel deixa de lado as distinções entre as palavras “hebreu, Israel e judeu”.
No AT, uma pessoa poderia ser hebreia sem ser judia nem israelita; por exemplo, Abraão (Gn 12—25). Alguém poderia integrar a nação de Israel e ser hebreu sem ser judeu: por exemplo, o profeta Samuel (1Sm 1—25). Ele vivia em uma época na qual ainda não se havia cunhado o termo “judeu”. Na verdade, a palavra “judeu” não aparece no Pentateuco. É um termo pós-exílico.
Alguém poderia ser judeu sem ser israelita nem hebreu: por exemplo, Antíoco, o rei macedônio (2Macabeus 9.17). Uma pessoa poderia ser incorporada a uma família em Israel e tornar-se judia, mas sem ser hebreia ou descendente de Jacó: por exemplo, Aquior, o amonita (Judite 14.10). Além disso, o livro de Ester nos informa que muito povos se tornaram judeus (Et 8.17).
Durante a vida de Jacó, “Israel” denota a ele mesmo, Jacó (Gn 32.28), seus filhos (Gn 34.7) e sua tribo (Gn 47.27; 49.28). Durante a vida de Moisés, “Israel” refere-se aos descendentes da tribo de Jacó (Êx 1.7). No entanto, às vezes o título “Israel” exclui certas tribos, tais como as de Rúben e Gade e a meia tribo de Manassés (Js 22.1-11). Exclui Benjamim em Juízes 20.35.
Durante o período do reino unificado e antes da queda de Samaria, o termo “Israel” pode excluir os homens de Judá (1Sm 17.52; 18.16) ou representar os homens de Absalão que se rebelaram contra Davi (2Sm 17.24), onde, pelo contrário, exclui Davi e seus homens.
Quando o reino se dividiu, “Israel” refere-se ao reino do norte e “Judá” ao reino do sul. Após a queda do reino do norte, muitos profetas como Isaías, Jeremias e Ezequiel usaram o termo “Israel” para se referir a todos os seguidores de Javé (Is 41.8; 43.1; 44.1; Jr 31.33; Ez 37.21).
Todavia, durante o período de Esdras e Neemias, essa abordagem inclusiva enfrentou vários desafios. Esdras 9.2 diz que a “descendência santa” se misturou com os povos vizinhos. Isso ajuda a entender o interesse de Esdras no âmbito de um grupo minoritário que busca preservar sua pureza religiosa ao não se casar com pessoas de outras religiões.
Aqui no blogue MC: Evidências arqueológicas e fatos da Bíblia
O NT também inclui uma pluralidade de significados. “Israel” pode designar o povo de Deus guiado por um rei-pastor de Belém (Mt 2.6). Pode se referir a uma terra em particular (Mt 2.20), às doze tribos (Mt 19.28) ou aos judeus em Jerusalém (At 2.22).
Paulo também argumenta que “nem todos os descendentes de Israel pertencem, de fato, ao povo de Deus” (Rm 9.6). Parece que nem o DNA nem a biologia são o fator determinante nesse versículo. Israel não corresponde aos descendentes físicos de Jacó (Mt 3.9; Jo 8.37-39).
Aliás, definir Israel com base no dna é problemático. Em primeiro lugar, há muitos casamentos mistos no AT: Judá se casa com uma mulher cananita (Gn 38.2); José com uma egípcia (Gn 41.45); Simeão com uma cananita (Gn 46.10); Moisés com uma midianita (Êx 2.21-22); e Salomão com muitas mulheres estrangeiras (1Rs 11.1-3).
O casamento misto não se restringe a tais casos famosos, pois o livro de Juízes diz que muitos dos descendentes de Jacó tinham esposas estrangeiras (Jz 3.5-6). Além dos descendentes homens que se casaram com mulheres estrangeiras, descendentes mulheres se casaram com homens estrangeiros.
Selomite, da tribo de Dã, casou-se com um egípcio (Lv 24.10-12), e uma mulher da tribo de Naftali casou-se com um homem de Tiro e deu à luz Hirão, uma figura bíblica de destaque (1Rs 7.13-14).
Em segundo lugar, pessoas estrangeiras poderiam ser integradas a uma família israelita como filhos com todos os direitos. Por exemplo, Jará, o escravo egípcio de Sesã, um descendente de Judá, casou-se com a filha de Sesã para perpetuar sua linhagem, visto que este não tinha filhos homens (1Cr 2.34-35). Os netos de Sesã receberam sua herança na tribo de Judá como israelitas plenos, apesar de terem pai egípcio.
Em terceiro lugar, pertencer a Israel não se baseia no dna, nem na biologia, nem na proporção de sangue “judeu”. De fato, estrangeiros se incorporaram à família de Israel ao crer no Deus de Israel. Rute tornou-se a avó de Davi, o maior rei do Israel antigo. E para que Rute não seja vista como exceção, há de se considerar Raabe (Js 6.25) e as 32 mil virgens midianitas (Nm 31.35).
Ter uma linhagem isenta de gentios não faz de ninguém um israelita verdadeiro nas Escrituras. Se assim fosse, a identidade do próprio Jesus poderia ser questionada. Apesar de ter várias bisavós gentias (Mt 1) e não ter um pai biológico judeu, é considerado um membro pleno de Israel. Muitos representantes do judaísmo de hoje reconhecem algo semelhante, pois uma pessoa é considerada “judia” se sua mãe o é, independentemente da ascendência do pai.
Para concluir, apresentamos as múltiplas acepções da palavra “Israel”. Cada discurso deve definir o significado do título de acordo com seu uso. Também afirmamos que as Escrituras demonstram flexibilidade quanto a aceitar adesão a Israel. O DNA não é o fator determinante.
No entanto, ninguém pode ser israelita verdadeiro sem viver sob uma aliança com Deus.
Como cristãos, acreditamos que nos incorporamos a Israel por meio da nova aliança. Jesus Cristo é nosso meio para que nos tornemos membros do Israel bíblico.
Dr. Rev. Yohanna Katanacho é atualmente professor titular de Estudos Bíblicos e reitora acadêmica no Nazareth Evangelical College em Israel. Ele ministrou cursos na Trinity Evangelical Divinity School (EUA), no Bethlehem Bible College (Palestina) e no Evangelical Theological Seminary no Cairo (Egito). Ele é um evangélico israelense palestino que estudou na Bethlehem University (B.Sc.), Wheaton College (M.A.) e Trinity Evangelical Divinity School (M. Div.; Ph.D.).
Ele é autor e colaborador de dezenas de livros em inglês e árabe, incluindo “The Land of Christ: A Palestinian Cry” e “Praying through the Psalms”. Dr. Katanacho é editor do “Antigo Testamento do Comentário Contemporâneo Árabe”, “Comentário Bíblico Asiático”. Ele também é um dos autores do Documento Kairos Palestino. O Rev. Katanacho é casado com Dina, diretora da Sociedade Bíblica Árabe Israelense, e eles têm três filhos: Immanuel, Jonathan e Chris.
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