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Você sabia que a concepção da capa de uma publicação é um dos principais elementos dentro do processo de produção editorial? Sabia que as tendências de criação podem mudar entre um país e outro? Gostaria de conhecer mais o perfil de um bom capista ou designer?
Para falar sobre o assunto, conversamos com Mark Carpenter, presidente da MC, que compartilha informações curiosas para quem deseja entender como é o processo de criação de capas de livros e obter algumas dicas para se aprimorar ou se engajar nessa atividade profissional. Confira!
Mundo Cristão: Por que elaborar cuidadosamente a capa de um livro é importante?
Mark Carpenter: A capa é a fisionomia do livro. Ela estabelece a identidade da obra em torno da qual o leitor se conscientiza e o comércio se mobiliza. É fundamental elaborar uma capa que dê uma “cara” adequada ao conteúdo do livro.
Quais são as características de uma boa capa?
Uma capa reflete o conteúdo, a essência, o tom e o humor do livro. Ela leva em consideração o público-alvo da obra e fala a sua língua. Uma boa capa atiça a curiosidade do leitor e revela um pouco daquilo que a obra promete.
Ela revela que o designer conhece as tendências atuais e o contexto dentro do qual o livro se expõe. Um cuidado evidente no design da capa comunica implicitamente ao leitor que há maior probabilidade de que o conteúdo também deve ter sido editado com esmero.
Essa concepção pode mudar entre um país e outro? Por exemplo, quais são as diferenças entre o perfil das capas dos livros norte-americanos e brasileiros?
Sim, cada país tem sua tradição e padrões no campo editorial. Os livros japoneses, por exemplo, tem formatos e padrões de design e encadernação únicos no mundo. Na França, muitas capas de livros das casas literárias são minimalistas, contendo apenas as informações essenciais sobre um fundo claro, sem ilustrações, optando eventualmente por complementá-las com jaquetas ilustradas que cumprem as funções de marketing e comunicação nos pontos de venda, mas preservando o produto físico com suas características clássicas.
No caso das diferenças entre as capas no Brasil e nos Estados Unidos, vale sempre ressaltar a necessidade de conhecer bem o público-alvo. As tendências de design editorial são distintas, assim como as estratégias de lançamento.
Nos Estados Unidos, por exemplo, os livros mais importantes são usualmente encadernados em capa dura nas primeiras edições. Somente após 6-12 meses é que chegam as edições em brochura. No Brasil a estratégia é diferente; normalmente as primeiras edições já chegam ao mercado no formato brochura.
Nos Estados Unidos frequentemente as capas são mais sutis, com títulos abstratos e presença maior de elementos subjetivos. No Brasil a proposta do livro precisa ficar mais explícita, óbvia ou interpretativa para o leitor, principalmente nas obras de não-ficção, mas eventualmente nos romances também.
Por exemplo, o título A Casual Vacancy (literalmente Uma vaga fortuita), de J. K. Rowling, foi traduzido como Morte súbita. To Kill a Mockingbird (Para matar um tordo) foi traduzido como O sol é para todos.
Da mesma forma, o design acaba desempenhando um papel mais pragmático no sentido de esclarecer o conteúdo. Em ambos os países, os designers tendem a seguir as últimas tendências do design editorial, para que os seus livros não destoem do contexto mercadológico.
De que forma a MC alia inovação e criatividade quando o assunto está relacionado à elaboração das capas das publicações.
Estamos sempre acompanhando o que de mais atual existe em tendências de design editorial, dentro e fora do país. Afinal, precisamos que nossos livros conversem com os consumidores que estão nas livrarias, virtuais ou físicas, onde o design dos nossos livros compete com os maiores bestsellers e sucessos do momento.
Por isso investimos em briefings que são enviados aos melhores capistas do Brasil. A versão final da capa é sempre resultado da criatividade de um ótimo designer e do filtro que aplicamos que reflete nosso conhecimento do mercado.
Como é o passo-a-passo do processo de criação: da concepção até a escolha da capa que será publicada?
O primeiro passo consiste em agendar uma reunião entre o responsável pela criação (colaborador da Editora) e a equipe editorial que decidiu pela publicação do livro. Definimos se vamos adaptar a capa original (quando se trata de livro traduzido) ou se preferimos uma nova criação.
Definimos os parâmetros gerais para que seja criado um briefing — um resumo do conteúdo e nossas ideias iniciais sobre a capa ideal. O briefing é enviado a um capista autônomo, que então produz algumas alternativas.
Essas ideias são circuladas internamente entre o responsável pela criação, o gestor de operações e o superintendente geral. Frequentemente solicitamos alterações, e após idas e vindas, aprovamos aquela que chega mais próximo daquilo que mais adequadamente encapsula o livro para o seu público-alvo.
De que forma o briefing é criado? O que é levado em consideração? Quais são as principais diretrizes ao capista ou designer?
O briefing é sempre o mais resumido possível, contendo algumas linhas gerais que definem o que desejamos estabelecer. Procuramos ser o mais sintético possível para não inibir a criatividade e imaginação do capista, que frequentemente nos surpreende com soluções inovadoras.
Ao capista transmitimos características como o gênero literário do livro, detalhes demográficos sobre o público-alvo, formato físico, se desejamos orelhas, se há orçamento para aplicação de detalhes como verniz ou relevo, se temos orçamento para produção de fotografias ou ilustrações originais, etc. Diante desses parâmetros, podem exercer sua criatividade e apresentar opções para a Editora.
Poderia citar um ou dois cases de sucesso?
No ano passado encomendamos uma capa para o livro Discipulado, de Dietrich Bonhoeffer. Tratava-se de uma nova tradução do alemão, e tínhamos grandes expectativas. Mas o briefing não trouxe o resultado esperado.
Após algumas rodadas, um membro de nossa equipe teve uma ideia genial — por que não reproduzir uma imagem de uma camisa de um prisioneiro de campo de concentração da segunda guerra mundial?
Com base neste ideia, foi criada uma das melhores capas do ano, emblemática, chocante e original. Outro case foi a série de capas que produzimos para os livros de Brennan Manning. Para o primeiro livro — O evangelho maltrapilho — o designer criou uma capa igualmente “maltrapilha”, com aparência de coisa velha, surrada, danificada, consertada com fita adesiva. Combinou perfeitamente com o conceito da obra. Agradou tanto que os outros livros da série seguiram o mesmo conceito de design.
Quais habilidades e conhecimentos são fundamentais para quem pretende atuar na área, tanto na concepção quanto na criação de capas?
É importante que esses profissionais tenham um amplo conhecimento do mundo das artes, das tendências do design editorial e do público-alvo que procuramos atender.
Os designers podem ser autônomos, formados em design ou em artes visuais ou mesmo em outras áreas, ou até mesmo autodidatas; o importante é que tenham um olho para o ótimo design e domínio sobre os recursos e ferramentas necessários para chegar à melhor solução.
Nós nos importamos mais com a qualidade do produto final do que com a formação dos profissionais envolvidos. As escolas de design podem complementar o talento natural do designer, mas nada substitui a imaginação do indivíduo.
Três dicas para quem gosta do assunto e deseja se aperfeiçoar ou dar os primeiro passos nessa atividade profissional.
A dica mais evidente seria orientar o interessado a procurar formação educacional voltada a área. Mas como valorizamos o produto final mais do que o processo que preparou o designer para produzi-lo, prefiro sugerir outras:
- É fundamental conhecer profundamente as tendências de design editorial, observando e estudando as capas que as principais editoras estão levando ao mercado. Quais são as tendências mais evidentes para cada gênero de livro? Quais são os dispositivos e recursos de impressão e acabamento que estão surgindo? Quais são as fontes preferidas, o tratamento tipográfico, a maneira de cuidar das ilustrações ou fotografias? Quais padrões são identificáveis, e o que se distingue da norma (e por que)?
- Estude design como um todo (não apenas editorial). Quais são as tendências no design de arquitetura, moda, móveis, urbanismo, tecnologia e decoração que podem ser aplicadas ao designeditorial?
- Torne-se parte do público-alvo. É fundamental ler livros criados para o mesmo público-alvo que você pretende servir com o seu design. Assim você adquire o conhecimento natural que surge do consumidor, para então melhor atendê-lo.
Mark Carpenter
Presidente da Editora Mundo Cristão
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