Uma reflexão escrita por Terence Lester em “Invisíveis: como o amor nos abre os olhos para pessoas marginalizadas”
Por Terence Lester em Invisíveis: como o amor nos abre os olhos para pessoas marginalizadas
O Deus que vê
Afinal, como Deus vê os pobres? Em Gênesis, Hagar, uma serva egípcia marginalizada e pobre clamou a Deus em desespero. Hagar estava fugindo quando um anjo do Senhor lhe apareceu e perguntou aonde ela estava indo. Depois de Hagar ser vista por Deus em seu momento mais sombrio, ela “passou a usar outro nome para se referir ao Senhor, que havia falado com ela. Chamou-o de ‘Tu és o Deus que vê’” (Gn 16.13).
Deus restaura a dignidade de Hagar ao vê-la — ao ver onde ela estava, para onde estava indo, por que estava com medo, e ao chamá-la para sua verdadeira identidade. Deus foi o primeiro a dizer: “Vejo você”. Ele o diz para você e para mim em nossos momentos mais sombrios, e para os pobres e marginalizados nas ruas. Se somos seguidores do Deus que vê, precisamos nos tornar pessoas que veem. Precisamos nos tornar pessoas que mostram e anunciam para outros: “Vejo você”.
A Bíblia tem mais de duas mil referências a pobreza e justiça. As seguintes são algumas das mais relevantes para consideração.
O Senhor é abrigo para os oprimidos, refúgio em tempos de aflição.
Salmos 9.9
Felizes são vocês, pobres, pois o reino de Deus lhes pertence. Felizes são vocês que agora estão famintos, pois serão saciados. Felizes são vocês que agora choram, pois no devido tempo rirão.
Lucas 6.20-21
Não se preocupem com seu próprio bem, mas com o bem dos outros.
1Coríntios 10.24
Quando membros do povo santo passarem por necessidade, ajudem com prontidão. Estejam sempre dispostos a praticar a hospitalidade.
Romanos 12.13
Se um irmão ou uma irmã necessitar de alimento ou de roupa, e vocês disserem: “Até logo e tenha um bom dia; aqueça-se e coma bem”, mas não lhe derem alimento nem roupa, em que isso ajuda?
Tiago 2.15-16
Jesus sempre pede que nos sacrifiquemos. Pede constantemente que cuidemos dos pobres e marginalizados.
Na igreja, complicamos as coisas ao criar dias especiais de serviço ou inventar justificativas para a situação dos pobres. Infelizmente, porém, quando não nos atentamos para os pobres, deixamos de compreender a essência do evangelho. Focalizamos as coisas erradas. O amor pelos oprimidos e marginalizados ocupa o cerne do evangelho.
Perguntei a meu amigo Brenton, pastor em Virginia, o que mudou seu modo de enxergar pessoas em situação de pobreza. Ele fez alguns comentários perceptivos sobre como foi crescer em uma igreja que nunca falava dos pobres.
Explicou: “Não fazia parte do ensino. O enfoque de nosso discipulado e crescimento como cristãos era sempre alcançar determinado nível de moralidade. Dizia respeito ao que devíamos fazer, ao que não devíamos beber, com quem devíamos ou não passar tempo, ao que assistíamos na TV e qual era nossa ética sexual”.
Prosseguiu: “Não tínhamos entendimento nenhum de ética social e só enfocávamos a piedade pessoal. Consequentemente, não compreendíamos a ética de Jesus em relação aos pobres, nem aprendíamos a esse respeito. Essa foi minha experiência de crescer numa igreja evangélica conservadora em uma região rural”.
Perguntei a meu amigo como foi sua transição. Ele respondeu: “Não foi uma mudança repentina. O processo começou com a participação em uma comunidade que colocava essa ética em prática, quando conheci pessoas impactadas pelas questões de ‘justiça social’ e ouvi suas histórias. Tive de fazer perguntas difíceis a respeito de nossas ações e motivações. Jesus nunca evitou as perguntas difíceis e nunca deixou de confrontar os ‘melhores’ religiosos com o fato de que não haviam entendido o que era mais importante”.
Temos a responsabilidade de seguir o exemplo de Jesus. Não temos mais justificativas para nossa ignorância das necessidades e das aflições dos pobres e de como é absolutamente essencial cuidar deles. Cuidar dos pobres e relacionar-se com eles é o evangelho. É paralelo à vinda de Jesus à terra para fazer aquilo que não tínhamos condições de fazer por nós mesmos. Se não percebermos ou entendermos plenamente a misericórdia que nos foi oferecida, ela não transformará nossa vida como deve.
“Não temos mais justificativas para nossa ignorância das necessidades e das aflições dos pobres e de como é absolutamente essencial cuidar deles.”
Terence Lester
Deixamos de tratar do que é mais importante e nos esforçamos para obter santidade artificial em vez demonstrar a outros o amor que Jesus demonstrou por nós. Pode ser difícil tirar o foco de nós mesmos como heróis e mártires que nos tornamos em nossa busca por santidade. Muitos de nós trabalhamos a vida toda para alcançar esse patamar espiritual. Mas de que adianta, se não entendemos aquilo que é fundamental?
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Você acaba de ler um trecho de Invisíveis: como o amor nos abre os olhos para pessoas marginalizadas, escrito por Terence Lester. Na obra, o autor compartilha sua própria experiência ao entender, em primeira mão, o que é morar nas ruas. Para isso, se propôs a
vivenciar aquilo que os “invisíveis” passam no dia a dia. À medida que compartilha histórias de vida, expõe fatos e denuncia gravíssimos problemas sociais, apresenta maneiras efetivas e comprovadas de tratar da pobreza na prática.
Longe de desafiar o leitor a fazer caridade, Terence o convida a amar sem condições, a ressignificar a própria existência, assumindo o serviço como um estilo de vida, e não um evento. Clique aqui e leia nossa resenha da obra.