Confira a primeira parte da entrevista especial com Susana Klassen, especialista em conteúdo para o público infantojuvenil
Em 2015, a Mundo Cristão lança no Brasil o livro Eu e elas – tudo o que você precisa saber sobre amizade, bullying e panelinhas, escrito por Nancy Rue, autora americana de obras dedicadas ao público infantojuvenil.
No obra, Nancy oferece conselhos e dicas importantes para o bom convívio social e saúde emocional das adolescentes.
Tudo com uma linguagem de fácil entendimento e aproximada às leitoras nessa faixa etária.
(Para ler a resenha do livro e a biografia da autora, clique aqui). O bullying, um dos temas tratados no livro, tem sido alvo da atenção de pais, profissionais da saúde e da educação.
O termo que tem origem na palavra bully do idioma inglês e que significa “ameaçar” reflete uma forma de violência que pode ocorrer na escola, no trabalho, na vizinhança e até entre os familiares.
Ele acontece quando uma pessoa faz ou diz algo constantemente com a intenção de prejudicar alguém que tem dificuldade de se defender. Comportamento que pode afetar a qualidade de vida do agredido.
Muitos pais, por falta de informação, não sabem o que fazer e desconhecem a melhor maneira de orientar os filhos para que possam agir de forma adequada em caso de agressão física ou psicológica.
Diante dessa realidade e a fim de oferecer aos nossos leitores informações importantes sobre o assunto, a Mundo Cristão entrevistou Susana Klassen, brasileira, porta-voz do livro “Eu e elas”, no Brasil, também autora e especialista em aconselhamento para o público jovem.
No bate-papo, Susana compartilha uma série de dicas úteis para que os pais e professores possam identificar e lidar corretamente com esse tipo de situação.
O conteúdo especial foi dividido em duas partes. A primeira delas, você confere a seguir:
Mundo Cristão? De que forma o bullying pode afetar a saúde integral de uma pessoa, especialmente crianças e adolescentes?Susana Klassen:
O bullying muitas vezes causa séria distorção na maneira como a pessoa agredida se vê.
Alguns de seus efeitos podem se arrastar até à vida adulta e precisam ser tratados por profissionais capacitados.
Quem sofre bullying pode ser levado a concluir que não tem valor nem lugar no universo em que vive pelo simples fato de ser considerado diferente ou inadequado.
Essa percepção com frequência gera perda de autoconfiança, retração e isolamento, e expressões intensas de tristeza e agressividade que vão muito além das variações de humor da puberdade.
Tudo isso pode vir acompanhado de sintomas físicos típicos de um quadro ansioso como dores de cabeça ou de estômago, náuseas, distúrbios do sono e até reações alérgicas.
Também pode gerar comportamentos depressivos como perda de interesse em atividades outrora prazerosas e desleixo nos cuidados com a aparência e a higiene.
Em alguns casos, pode desencadear episódios de dor autoinfligida (cortar-se, beliscar-se ou ferir-se de alguma outra forma) ou o início de transtornos alimentares.
O bullying pode ter implicações, ainda, na vivência da espiritualidade, pois pode levar a pessoa agredida a imaginar que Deus a abandonou ou que é culpada de algo e, portanto, merecedora desse “castigo”.
Ela pode concluir que precisa esforçar-se mais para ser uma “pessoa boa” ou que nunca vai conseguir ser aceitável para Deus.
Não é raro todas essas consequências tornarem a vítima de bullying ainda mais suscetível a novas agressões, criando, desse modo, um círculo vicioso que só pode ser quebrado com uma intervenção externa.
MC: Muitas vezes, por vergonha ou por intimidação, os jovens podem mascarar ou esconder uma situação dos pais ou responsáveis. Como perceber os sinais de que alguma coisa não anda bem?Susana Klassen:
É importante que pais ou responsáveis fiquem atentos para os sinais descritos acima e para outras mudanças como:
• Querer desistir repentinamente de certas atividades ou recusar-se a participar de eventos que antes proporcionavam alegria e desafios saudáveis (prática de esportes, festas, programações da igreja) e não ter uma explicação clara para essa desistência. Muitas vezes o bullying está acontecendo no lugar em que essas atividades são realizadas.
• Usar sempre um tom negativo ou expressar mágoa, tristeza ou confusão ao falar de colegas.
• Retrair-se quando está com a família ou no meio de um grupo maior de pessoas a ponto de ser quase impossível fixar sua atenção no que passa ao redor.
• Procurar esconder sinais de agressão física como arranhões ou hematomas (por exemplo, usar mangas compridas em dias quentes ou não querer aparecer de roupa de banho na frente da família).
MC: Ensinar o filho a se defender por conta própria também é uma opção? Se sim, quais os comportamentos ou medidas que um pai pode transmitir ao filho, a fim de que ele saiba lidar com situações de intimidação ou perigo?Susana Klassen:
Com certeza. A fim de recuperar a autoconfiança e o poder de ser autêntica, a pessoa agredida precisa desenvolver maneiras práticas de lidar com o agressor.
A exceção é para os casos em que o perigo físico está presente ou em que a pessoa agredida apresenta sintomas físicos de ansiedade e/ou sinais de depressão.
Nessas situações, a resolução deve sempre ser por meio da intervenção dos adultos responsáveis.
Nos demais casos, os pais podem ajudar o filho a mudar sua postura diante do agressor.
Podem incentivá-lo a mostrar coragem, mesmo que esteja com medo e ajudá-lo a formular respostas apropriadas para quando tiver de lidar diretamente com o agressor de modo a calá-lo e não irritá-lo.
Também podem ajudar o filho a desenvolver uma postura física mais assertiva e o hábito de olhar diretamente nos olhos ao falar com o agressor.
Para orientações detalhadas sobre como ajudar uma criança ou adolescente a lidar com o bullying, recomendo a leitura do Manual para Mães de Garotas Descoladas. O livro Eu e elas: Tudo o que você precisa saber sobre amizades, bullying e panelinhas também oferece muitas dicas práticas para meninas pré-adolescentes e adolescentes a enfrentar a agressão de modo equilibrado e eficaz.
Susana Klassen é autora de livros didáticos e paradidáticos para o público infantojuvenil, dentre eles, a obra Patty Palito (Editora Scipione), a qual aborda como principais temas os distúrbios alimentares e o bullying.
Tradutora especializada em obras de referência/Bíblias de estudo e em textos para pré-adolescentes e adolescentes, possui vários cursos para o ensino do inglês (TTC), TOEFL, tradução e creative writing.
Seu histórico acadêmico inclui formação técnica pela Universidade de Idaho, EUA, em elaboração de currículos para ensino a distância; participação como ouvinte e cumprimento da bibliografia do programa de Doutorado em Ministério (D. Min.) da Universidade de Princeton, EUA; e a atuação como palestrante para professores da Association of Christian Schools International (ACSI).
Susana também foi professora de inglês para crianças, adolescentes e adultos e chefe de tropa escoteira feminina (pré-adolescentes).
Atualmente é colunista do Blog FaithGirlz (Mundo Cristão), entre outras atividades.
Ela e seu esposo, Vanderlei, vivem em Atibaia, interior de São Paulo.