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Alcoolismo na família. Como lidar?

Conversamos com Saulo Ribeiro, autoridade em prevenção e tratamento ao uso de drogas, autor de Livre! O que o dependente e sua família precisam saber para vencer o vício e suas consequências

Estima-se que 3% dos brasileiros e brasileiras acima de 15 anos são dependentes químicos, um contingente de aproximadamente 5 milhões de pessoas. Trata-se de um problema de grande impacto social. Em  Livre! O que o dependente e sua família precisam saber para vencer o vício e suas consequências, Saulo Ribeiro traz uma série de dados que ajudam a entender como a dependência afeta o indivíduo e seu entorno, além de elucidações acerca de como agir.

Na ocasião do Dia Nacional em Combate ao Alcoolismo, 18 de fevereiro, nossa equipe conversou com o autor, no intuito de oferecer aos leitores e leitoras MC informação de utilidade pública e de grande ajuda quando não se sabe o que fazer e a quem recorrer. Nosso entrevistado é uma autoridade no assunto.  

Pastor de jovens casais e da área social da Igreja Batista Cidade Viva na Paraíba e pastor da Igreja Cidade Viva em Brasília-DF, Saulo Ribeiro é historiador, especialista em Saúde Mental e em Projetos Sociais, mestre e doutor em Ciência das Religiões com temática em Desenvolvimento Social (UFPB). Foi Diretor de Programas do Governo Federal atuando, entre outros, no planejamento de políticas de prevenção e tratamento ao uso de drogas em todo o país. Ele também coordena a área de Prevenção e Tratamento de Adicções da Fundação Cidade Viva. É casado com Sabrina e pai de Daniel, Pedro e Tiago.

Alcoolismo: uma doença

De acordo com Saulo Ribeiro, o alcoolismo é condição médica que exige abordagem adequada para que haja sucesso no tratamento. Muitas pessoas pensam que a superação depende tão somente de força de vontade. Mas não é bem assim. Um paciente com diabetes, por exemplo, precisa de acompanhamento médico. Da mesma forma acontece com o alcoólatra (ou alcoolista, outro termo utilizado para se referir ao dependente em álcool). O alcoolismo é uma doença que precisa de tratamento especializado.  

“A pessoa que luta contra o alcoolismo — seja o dependente ou a família — enfrenta uma batalha muito difícil, já que o consumo de álcool é um costume social amplamente estimulado pela publicidade. Em qualquer comemoração que se faça, é comum que haja ‘uma cervejinha’ ou outras bebidas alcoólicas. Tais estímulos são desafiadores para um dependente. Já atendi uma pessoa que estava assistindo a um jogo de futebol e que, ao acompanhar uma propaganda de cerveja, começou a tremer e salivar”, compartilha.

Nesse sentido, pontua o autor, é fundamental que a família entenda o quão delicada é a questão dos estímulos, para que possa se policiar. “Certa vez, acompanhei um rapaz que tinha terminado o tratamento em álcool e não o consumia há nove meses. Ele voltou a sua cidade e sua família lhe fez uma festa. O problema é que na comemoração havia cachaça e cerveja. Aquele homem me ligou desesperado, pedindo: ‘Saulo, pelo amor de Deus, me tire daqui.’. Tivemos de buscá-lo. É importante que a família mude a postura”.  

Conforme esclarece o especialista, uma pessoa apresenta dependência ao álcool quando já não consegue sentir-se bem sem o consumo da substância. Há alguns indícios clássicos do vício: irritabilidade, perda da produtividade e de compromissos, distanciamento ou crise na interação familiar e social, falta ao trabalho, discussões e violência. Em suma, quando o álcool começa a atrapalhar a vida, é preciso buscar ajuda.

Onde obter ajuda

Não raras vezes, ao notar que um ente querido sofre com alcoolismo e/ou dependência de outras drogas, os familiares se sentem perdidos, sem saber como lidar com a crise. Saulo Ribeiro compartilha dicas que podem ajudar.

Primeiramente, ele enfatiza a necessidade de informação a partir de fontes confiáveis. O conhecimento será um diferencial para que estratégias adequadas sejam implementadas. O autor também sugere o trabalho de algumas organizações que oferecem suporte às famílias e dependentes:

ONG Amor-Exigente (AE), que atua com apoio e orientação aos familiares de dependentes químicos e às pessoas com comportamentos inadequados. A iniciativa “desenvolve preceitos para a reorganização familiar, sensibilizando as pessoas e levando-as a perceber a necessidade de mudar o rumo de suas vidas a partir de si mesmas, proporcionando equilíbrio e melhor qualidade de vida”. Site: amorexigente.org.br.

CoDependentes Anônimos (CoDA Brasil). É um programa de recuperação dos codependentes, por meio da partilha de experiências com participantes que vivenciam a mesma realidade. Site: codabrasil.org

Ligue 132: Serviço gratuito, anônimo, confidencial, de abrangência nacional, disponível 24h e que oferece orientação a dependentes e familiares. Por meio do Ligue 132 é possível obter informação sobre prevenção ao uso de drogas e indicações de locais próximos em que os usuários podem receber assistência especializada.

Você sabia?
“A dependência química é uma doença familiar, e o modo como ela atinge os parentes do usuário é denominado codependência. Tanto o dependente quanto o codependente estão doentes, ambos precisam de mudanças de hábitos e de ajuda para que tenham sucesso.”
Trecho de Livre! O que o dependente e sua família precisam saber para vencer o vício e suas consequências

Orientações a familiares (codependentes)

Evite extremos

Saulo comenta que, ao longo de sua experiência, viu uma constante: famílias que tendem a extremos quando o assunto é lidar com um dependente. De um lado, há aqueles que apelam para a agressividade; de outro, para o coitadismo. Ambos os extremos são prejudiciais.

“Jamais podemos hostilizar quem padece tal doença. O viciado precisa de pessoas que o amem, não que lhe cavem um buraco mais fundo. No entanto, deve-se evitar o coitadismo. É preciso ser firme. O dependente precisa entender que ele ou ela é responsável por suas decisões e tem de assumir a consequência de seus atos”. 

Seja presente

A partir de uma pesquisa que realizou, Saulo chegou a uma estatística reveladora: 94% dos casos de vício envolviam pessoas em que pai ou mãe (ou ambos) eram ausentes na criação dos filhos. Por isso, ele enfatiza a necessidade de que pai e mãe sejam participativos e mantenham-se próximos, não apenas fisicamente, mas também emocionalmente.

“Não há receita de bolo para manter um filho longe do álcool e de outras drogas. Mas se os pais são um referencial, passam tempo com a família, demonstram amor, sabem estabelecer disciplina, nutrem o diálogo e mostram que toda atitude tem consequência, já estão fazendo o que tem de ser feito”, aconselha.

Orientações para dependentes:

  • Reconheça a necessidade de ajuda e decida-se pelo tratamento voluntariamente;
  • Evite estímulos (ou gatilhos), como a companhia de determinadas pessoas, locais e situações que favoreçam o consumo de álcool;
  • Não caia na ilusão de que vai superar sozinho. Peça socorro. 
  • Admita que uma de suas características é a indisciplina. Portanto, seja assíduo ao seguir orientações de quem está disposto a ajudá-lo (a).
  • Saiba que o vício pode ter estreita relação com suas amizades. Mantenha distância de pessoas que o coloquem em posição de vulnerabilidade;
  • Busque ajuda profissional para tratar de problemas emocionais (traumas, solidão, complexo de inferioridade, depressão, entre outros);
  • Lembre-se de que a busca por prazeres desenfreados são portas abertas para o vício;
  • Confie em Deus, sabendo que ele pode ajudar você.

Uma palavra a pastores e líderes

Saulo Ribeiro é pastor, função pela qual lhe permitiu o contato com diferentes mazelas sociais. No que se refere às drogas, ele sinaliza que é primordial que pastores e líderes compreendam que a igreja deve ser um “hospital” para os doentes, o lugar em que o viciado se sinta à vontade para partilhar suas lutas. “A igreja tem de dar o suporte para o dependente e entender que tal pessoa está lutando contra o vício assim como outros lutam contra a mentira, a pornografia, o roubo… Precisamos estar preparados para acompanhar quem sofre”.

Há esperança

Saulo Ribeiro esclarece que a dependência em álcool é doença crônica, tida como condição sem cura, mas que tem tratamento. “Embora Deus possa realizar milagres, não se deve romantizar teologicamente a questão do vício. Assim como o diabetes, a dependência ao álcool é uma enfermidade. É luta que a pessoa terá de travar por toda a vida, uma luta possível de ser vencida. Se você sofre com o alcoolismo, busque ajuda. Muna-se de informação, proteja-se e afaste-se de tudo o que o atrai ao consumo. Com o tempo, essa dinâmica vai ficando mais fácil. Há perspectiva de restauração para sua vida. Entenda que Deus o fortalecerá, mas não tomará a decisão por você. A decisão sempre será sua. Tome uma boa decisão”. 

Conheça o livro de Saulo Ribeiro lançado pela Mundo Cristão:

Livre! O que o dependente e sua família precisam saber para vencer o vício e suas consequências

Livre! foi escrito, com informação e compaixão, para dependentes de drogas lícitas e ilícitas, seus amigos e parentes, e quem deseja conhecer mais a respeito do grande drama global que envolve a dependência química. Na obra, Saulo Ribeiro lança mão de dados científicos e estatísticos que não só conferem rigor técnico ao texto, mas profundo viés humanitário, traduzido em casos reais que dão esperança para quem não vê mais saída.

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