Fique por dentro desse curioso processo editorial em artigo inédito escrito por Mark Carpenter, presidente da MC
Você já comprou um livro por causa do título?
Isso acontece com mais frequência do que se imagina. O leitor não conhece o autor, pouco sabe sobre o tema, mas se encanta pelo título, arrisca e acaba levando o livro para casa.
A escolha do título é uma das decisões mais importantes do processo editorial.
Se mal concebido, pode relegar um ótimo livro ao encalhe. E o contrário também acontece: um título bem escolhido pode fazer um livro mediano subir rapidamente pelas listas de best-sellers.
Muita gente acha que quem escolhe o título é sempre o autor.
E de fato procuramos envolver o autor em todas as discussões sobre o assunto.
Mas os escritores geralmente confiam na expertise do nosso grupo, que tem dezenas de anos de experiência no mercado editorial.
Todos, autores e escritores, desejam contribuir para o sucesso do livro e esse anseio facilita a decisão.
Na Mundo Cristão, envolvemos vários colaboradores no processo. A decisão acontece após a assinatura do contrato do livro, e às vezes ocorre pouco antes do lançamento da obra.
Reunimos os editores, gente da área de vendas e comunicação, além dos diretores principais da editora.
Sabemos da importância crítica da escolha ideal do título, que dará ao livro a sua identidade permanente e pública.
Discutimos as opções até chegar, de forma unânime ou pelo menos democrática, àquilo que julgamos ser o melhor para o livro.
Quando o livro é uma tradução, a obra já chega com o pressuposto do título na língua original.
Isso pode ajudar, mas quase sempre alteramos o título para adequá-lo àquilo que sabemos sobre as preferências nacionais e o mercado brasileiro de cultura.
É por isso que grandes best-sellerscomo, por exemplo, ToKill a Mockingbird (literalmente, Para matar uma cotovia) acabam tendo títulos radicalmente diferentes no Brasil (nesse caso, O sol é para todos).
O que determina um bom título?
Aqui estão alguns princípios que norteiam nosso trabalho:
Um bom título sintetiza o assunto geral da obra.
De forma resumida, define o foco principal do livro e dá dicas sobre o perfil do público alvo.
O título revela se a obra é acadêmica ou popular, prática ou conceitual, ficção ou não-ficção.
Acima de tudo, principalmente para o leitor brasileiro, um bom título não contém abstrações e frequentemente proporciona uma clareza imediata sobre a natureza do conteúdo.
Veja, por exemplo, Cristianismo descomplicado: Questões difíceis da vida cristã de um jeito fácil de entender.
Em dois segundos o consumidor compreende a proposta.
Um bom título reflete o tom da obra.
Há autores que escrevem com muito humor, recheando o texto de histórias engraçadas. Outros são didáticos e persuasivos.
Os títulos devem levar em conta esse tom para assim preparar o leitor.
Sobre casamento, por exemplo, a Mundo Cristão tem títulos tão distintos quanto os seguintes: O sexo começa na cozinha e, por outro lado, Promessas de Deus para abençoar seu casamento.
Cada um dá indícios sobre a abordagem.
Um bom título harmoniza com outras obras do mesmo autor.
Quando a nova obra faz parte de uma série de livros, é importante considerar as outras obras, para atrair o leitor que já conhece o autor e a linha de abordagem.
Mesmo quando as obras anteriores do autor não fazem parte de uma série definida,
mesmo assim os leitores esperam uma uniformidade na voz e no estilo do escritor, e o título pode sinalizar essa dinâmica.
Em outubro lançamos Inspiratio, de Osmar Ludovico. Esse título remete ao título da sua primeira obra, Meditatio. O título em latim reflete o estilo do autor, que nos seus ensaios prioriza a reflexão cristã tradicional, o silêncio meditativo e a lectio divina.
A escolha do título Inspiratio comunica que Osmar está de volta com um livro na mesma linha.
Um bom título inclui a ideia de inovação ou de proposta inédita.
Os leitores esperam que livros novos tragam ideias novas, e os títulos devem ressaltar tal característica.
Parte do processo da escolha de um título inclui a verificação de que não existem outras obras no mercado com título idêntico,
principalmente quando se trata de um livro do mesmo gênero.
A proposta de valor de um lançamento inclui a ideia de novas propostas, experiências e maneiras de enxergar.
Um bom título contém uma promessa ao leitor.
Ao considerar possíveis títulos para uma obra nova, sempre perguntamos, “O que estamos prometendo para o leitor?”
É importante que o leitor perceba imediatamente o valor potencial do livro para a sua vida.
Procuramos ter certeza de que a combinação título/ subtítulo/ design/ produção anuncia ao leitor a chegada de uma proposta de alto valor.
Um bom título pode ou deve ser complementado por um subtítulo elucidativo.
Nem sempre o título em si dá conta de sintetizar o conteúdo de forma compreensiva.
Nesses casos fazemos uso frequente do subtítulo que explica ou condiciona a proposta existente no título. Em outubro, por exemplo, lançamos Paredes emocionais.
O título é forte, mas dá margem a diversos tipos de interpretação. Optamos por acrescentar um subtítulo:
“Como superar os obstáculos que impedem sua vida de seguir adiante”. O subtítulo ajuda o leitor a compreender a promessa implícita.
Um bom título inclui elementos que favorecem um belo design de capa.
Durante o processo de escolha de título e subtítulo, discutimos os componentes que devem ser inclusos num briefingpara o designer,
com base no apelo que desejamos criar a partir do título.
Nem todos os livros que lançamos se tornam best-sellers nacionais. Mas a criação de um bom título e um belo designaumentam a probabilidade de sucesso.
O que motiva todo o processo é nosso desejo de servir como instrumento para a transformação da vida do leitor.
— Mark Carpenter
Presidente da Mundo Cristão