Entendê-la pode fazer toda a diferença em sua vida de oração
Por Brennan Manning em O anseio furioso de Deus
Gostaria de chamar atenção para uma daquelas passagens profundamente tocantes. É um texto que exerceu profundo impacto em minha vida. No acontecimento, Jesus parece esgotado com o ministério; estava por aqui com as pessoas e desejava estar a sós; assim, desaparece furtivamente da multidão para encontrar um lugar tranquilo para orar.
Não demora muito, os discípulos percebem sua ausência e lhe saem em busca. Ao atravessarem o vale de Cidrom, quase tropeçam em Jesus. Ele está no chão, calado, imóvel, totalmente absorto em oração. Nunca antes tinham visto um homem orar como Jesus. Queriam orar como Jesus orava.
Assim, quando ele por fim se ergueu do chão, um dos discípulos disse: Senhor, ensina-nos a orar. Foi nas palavras seguintes que Jesus de Nazaré revelou às mulheres e aos homens de todas as idades a verdadeira face de Deus.
Ele lhes disse: Quando vocês orarem, digam: Pai! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano. Perdoa-nos os nossos pecados, pois também perdoamos a todos os que nos devem. E não nos deixes cair em tentação. (Lc 11.2-4).
Pai nosso. Palavras conhecidas, talvez tão conhecidas que deixaram de ser reais. Essas palavras eram não somente reais, mas também revolucionárias para os doze discípulos. Filósofos pagãos como Aristóteles chegaram à existência de Deus por meio da razão humana e se referiram a ele em termos vagos e impessoais: sem causa, motor sem movimento.
Os profetas de Israel revelaram o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó de maneira mais calorosa, mais compassiva. Mas somente Jesus revelou a uma comunidade judaica atônita que Deus é verdadeiramente Pai.
Se você tomasse o amor de todas as melhores mães e de todos os melhores pais que viveram no curso da história humana, toda a bondade deles, toda a paciência, fidelidade, sabedoria, ternura, força e todo amor e reunisse todas essas qualidades numa única pessoa, o amor dessa pessoa seria apenas uma pálida sombra do amor e da misericórdia presentes no coração de Deus Pai direcionado a você e a mim neste momento.
Ouvimos um belo eco disso no capítulo 8 da carta de Paulo aos Romanos, em que escreve: Pois vocês não receberam um espírito que os escravize para novamente temerem, mas receberam o Espírito que os adota como filhos, por meio do qual clamamos: “Aba, Pai” (Rm 8.15).
Aba significa literalmente: papai, papá, tatá, meu querido pai. Nos Estados Unidos, os psicólogos da infância informam-nos que a média dos bebês americanos começa a falar entre a idade de catorze e dezoito meses.
Independentemente do sexo da criança, a primeira palavra normalmente falada nessa idade é pa — pa, papá, papai. Um bebê judeu que falasse o aramaico na Palestina do primeiro século na mesma faixa etária começaria dizendo ab — ab, ab, Aba.
A revelação de Jesus não foi nada menos que uma revolução. Daquele momento em diante, nenhum cristão pode dizer que um tipo de oração é tão bom quanto outro ou que uma religião é tão boa quanto outra.
Jesus está dizendo que podemos nos dirigir ao Deus infinito, transcendente, todo-poderoso com a intimidade, a familiaridade e a confiança inabalável que um bebê de dezesseis meses de idade experimenta sentado no colo de seu pai — pa, papá, papai.
Você diria que sua vida de oração é caracterizada pela simplicidade, pela sinceridade pueril, pela confiança irrestrita e pela confortável familiaridade de um pequenino engatinhando no colo do Papai? Pela certeza de saber que o papai não se importa se o filho adormecer, se distrair com seus brinquedos ou mesmo começar a tagarelar com seus amigos pequenos, porque o papai sabe que o filho no fundo escolheu estar com ele naquele momento? É esse o espírito de sua vida interior de oração?
Fique por dentro!
O artigo que você acaba de ler é um fragmento do livro O anseio furioso de Deus, escrito por Brennan Manning. Clique aqui e confira outros artigos do autor, suas obras lançadas pela MC e uma breve biografia.
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