Conversamos com Marcelo Aguiar, psicólogo, teólogo, pastor e autor de diversos livros cristãos, entre eles O espinho na carne e a graça de Deus, lançado pela MC
Você se sente mal sempre que está perto de uma determinada pessoa? Não que essa sensação tenha surgido de modo gratuito. Você se sente assim porque esse alguém o coloca para baixo, o critica e desmerece constantemente. De fato, você percebe que o relacionamento entre vocês tem algo de chantagem emocional, assédio moral e pressão psicológica.
Sua vontade é de evitar aproximação, já que não raras vezes tentou estabelecer um diálogo verdadeiramente positivo, mas seus esforços foram em vão… Sempre que tenta distanciar-se ou exigir respeito, algo como uma teia o envolve, prendendo-o a um sentimento de culpa e responsabilização pelo vínculo afetivo. No fundo, percebe que está frustrado, cansado, ansioso e deprimido por causa das interações com alguém que esvai sua alegria. Se você se identifica com tal quadro, preste bastante atenção: você pode estar sendo “vítima” de uma pessoa tóxica.
Para falar sobre o assunto, conversamos com Marcelo Aguiar, autor de diversos livros cristãos, formado em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo e em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Líder experiente, Marcelo é pastor da Igreja Batista em Mata da Praia, em Vitória, Espírito Santo. Pela Mundo Cristão, lançou o livro O espinho na carne e a graça de Deus: Como as piores circunstâncias podem ser usadas para o nosso bem.
No bate-papo com a equipe de Comunicação da MC, o autor compartilha informações que ajudam os leitores e as leitoras a identificar e lidar com pessoas tóxicas na família, no trabalho e na igreja e deixa conselhos tanto a quem se percebe tóxico e deseja mudar quanto a quem está ferido por um relacionamento tóxico e precisa se tratar.
Pessoa tóxica, o que é?
“Uma pessoa tóxica é alguém que faz mal a seu interlocutor. Nem toda pessoa tóxica é, de fato, má. Na realidade, trata-se de um ser humano adoecido que precisa de limites”, afirma Marcelo Aguiar.
O comportamento tóxico nem sempre é consciente. Ele acontece por meio de críticas, manipulação, chantagem emocional, desrespeito, desmerecimento, exploração, superproteção, negatividade, comportamento possessivo e desagregador — este último, quando alguém provoca sistematicamente a desunião.
Segundo Marcelo Aguiar, soma-se a tais características o comportamento de quem tenta afastar seu interlocutor de Deus, prejudicando-o espiritualmente. “O amigo que faz de tudo para imprimir no outro um estilo de vida mundano. Aqueles que estão na ‘roda dos zombadores’, como exemplificado pela Bíblia”, diz.
A pessoa tóxica não enxerga ou não quer enxergar limites, por isso invade o espaço do outro, sufocando-o. “São pessoas inconvenientes, que passam por cima dos limites do respeito, da individualidade e do amor. Em seu adoecimento, adoecem outros”.
Uma pessoa tóxica sabe articular toda uma trama de chantagem emocional e desperta insegurança e inadequação em quem convive com ela. Um ponto extremamente delicado reside no fato de que a “vítima” geralmente cai num jogo de manipulação e pensa que o problema está em si, que é um ser humano ingrato e frio. Por isso, nutre sentimento de culpa. “Não é por acaso que todo relacionamento tóxico gera algum grau de depressão e ansiedade”.
“Uma pessoa tóxica sabe articular toda uma trama de chantagem emocional e desperta insegurança e inadequação em quem convive com ela. A “vítima” geralmente cai num jogo de manipulação e pensa que o problema está em si, que é um ser humano ingrato e frio. Por isso, nutre sentimento de culpa.”
Marcelo Aguiar, psicólogo
Impor limites para não cair na codependência
“A única maneira de conviver com uma pessoa tóxica é impondo-lhe limites, sabendo que não pode ser bom um relacionamento marcado por manipulação e mal-estar. Tanto a pessoa quanto o relacionamento tóxico têm potencial adoecedor”, esclarece Marcelo Aguiar.
Ao passo que a “vítima” vai alimentando um sentimento de responsabilização por quem o chantageia, é possível que o relacionamento desemboque na codependência, isto é, no viver em função do outro e deixar de desfrutar a própria vida. Ao tentar ajudar o parente, o amigo, o irmão da igreja ou o colega de trabalho, muitos acabam sendo sugados para dentro do turbilhão da toxicidade, por isso sofrem.
Marcelo sinaliza que cristãos, de certa forma, estão num grupo de risco, já que em seu ânimo de ajudar e amar os demais, podem ser vulneráveis a jogos de manipulação psicológica. No entanto, os cristãos maduros, que conhecem sua identidade como filhos amados de Deus e sua respectiva dignidade não aceitarão ser tratados com desmerecimento. “O cristão deve se lembrar que não precisa se submeter a qualquer coisa. Não devemos permitir que nos manipulem de nenhuma forma”.
“Como não confundir palavras de afirmação com palavras de bajulação”
Em casos extremos, é preciso se afastar
“Ao perceber que alguém nos afeta com um comportamento tóxico, precisamos ser incisivos e delimitar nosso espaço. Em casos extremos, é preciso que haja afastamento total e buscar auxílio.
“No entorno laboral, por exemplo, deve-se avaliar até que ponto é saudável permanecer num ambiente em que há falta de respeito mútuo. Caso um profissional decida sair do emprego por causa de assédio moral, ele pode e deve procurar seus direitos”.
As “vítimas” de líderes tóxicos no âmbito da igreja também precisam ponderar quando o distanciamento se torna urgente.
“Autoridade espiritual não é dominação. O líder ou o pastor deve ser um exemplo a ser seguido, não um dominador a ser obedecido cegamente. O líder ou o pastor é um mentor, um conselheiro, não um ditador espiritual. Se percebo que esses limites não são respeitados, se minha comunidade é adoecida e adoecedora, devo pedir a Deus que me direcione a uma comunidade em que haja relacionamentos sadios”.
Marcelo Aguiar elencou alguns conselhos a dois públicos: a quem percebe que tem comportamento tóxico e deseja mudar e a quem percebe que é “vítima” de pessoas tóxicas e precisa de ajuda. Tome nota:
Conselhos a quem tem comportamento tóxico e deseja mudar
- Saiba que você já percorreu 90% do caminho, pois a maioria das pessoas tóxicas não percebe ou não admite tal comportamento;
- Lembre-se que você não é necessariamente uma pessoa má, mas precisa trabalhar suas inseguranças, possessividade e criticismo, para fazer bem a quem está perto de você;
- Receba feedback, ouça as pessoas a partir de uma atitude humilde;
- Faça psicoterapia.
Conselhos a quem se percebe vítima de pessoas tóxicas e precisa de ajuda
- Você também já percorreu 90% do caminho, pois identificou que está sendo alvo de chantagem emocional e jogo psicológico;
- Não se sinta culpado por ter sido arrastado para um relacionamento como esse; ficar se culpando não vai ajudar em nada;
- Aprenda a dizer não, respeite e exija respeito;
- Procure ajuda de pessoas sadias emocionalmente, de um psicólogo experiente ou de um pastor sábio.
- Lembre-se: todo relacionamento precisa de limites e respeito.
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