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Diversos estudos e um sem-fim de histórias pessoais evidenciam que a saúde integral dos indivíduos — sobretudo emocional — pode ser profundamente afetada quando a criança ou o adolescente convive com um modelo masculino negativo ou este lhe é ausente, seja por decisão deliberada do pai ou fruto de negligência. O que o pai faz ou deixa de fazer não passa despercebido de quem busca nele um referencial de vida e conduta.
Seja biológico ou de criação, os filhos buscam no pai valores para a vida social e pessoal, em questões como integridade, trabalho e comportamento. Além disso, os filhos sentem falta da conexão com essa figura única. O pai — lê-se nessa palavra os significados objetivos e subjetivos que ela tem — deve ser consciente do legado que constrói no coração e na mente daqueles que assim o chamam.
O bom convívio com um homem que transmita segurança, ordem e dignidade à criança e ao adolescente é elemento singular para o desenvolvimento psíquico e social e merece atenção, já que falhas nesse relacionamento tendem a deixar sequelas por toda uma vida.
Ausência paterna
O Canal Saúde, iniciativa do Sistema Único de Saúde (SUS), criado e gerido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), dedicou um dos episódios do programa Em família para tratar da ausência paterna. A exibição contou com os depoimentos de pessoas que experimentaram a ausência do pai e com os insights de uma especialista.
Conforme sugere Em família, “o modelo masculino se faz essencial na formação da personalidade da criança e do adolescente”. Ainda que haja a ausência do pai biológico, outras figuras masculinas podem desempenhar um modelo de referência:
“Muitas vezes a criança que é criada sem referencial masculino pode se tornar aversiva às ordens dadas por representantes femininos e outras figuras de autoridade. […] É necessária uma figura de referência e de valores que possa criar um vínculo de afeto e estabelecer parâmetros de comportamento à criança.
“Este modelo pode não ser o pai biológico, mas outra figura masculina que dê este suporte, como um avô, um tio, o padrasto, por exemplo. É o caso de muitas mães que criam seus filhos longe deste pai biológico e que, no entanto, são crianças e adolescentes saudáveis por terem encontrado um outro modelo de referência” [para assistir ao episódio Ausência paterna, no programa Em família, do Canal Saúde (SUS/Fiocruz), clique aqui].
A ausência do pai pode afetar de modo especial as crianças e os adolescentes do sexo masculino
No livro Educando meninos, James Dobson, autoridade em família e criação de filhos, elucida uma série de fatos sobre a importância do pai para o desenvolvimento sadio dos pequenos. Ele comenta que a ausência do pai pode afetar de modo especial as crianças e os adolescentes do sexo masculino e desencadear dificuldades no desempenho escolar, na interação social e na regulação emocional.
O autor também afirma que os meninos estão em dificuldades atualmente, principalmente porque seus pais e mães, especialmente o pai, estão confusos, trabalhando demais, exaustos, desinteressados, viciados em substâncias químicas, divorciados ou simplesmente incapazes de enfrentar os problemas da vida. Na ausência dos pais, escreve Dobson, as mães “são obrigadas a fazer um trabalho para o qual têm pouco treinamento ou experiência. Por nunca terem sido meninos, as mulheres quase sempre possuem apenas uma vaga noção de como criar um deles”.
Ferida paterna
Em entrevista à Mundo Cristão, Larry Titus, autor de Teleios: O homem completo, compartilha seu repertório adquirido em mais de cinquenta anos dedicados à mentoria, ao aconselhamento e discipulado de homens. Ao comentar acerca do que há de comum nos cinco continentes em relação aos problemas que mais afetam o público masculino, ele declara que a chamada “ferida paterna” é o maior problema em todos os continentes e em todas as nações. Ela — a ferida paterna, os traumas causados pela ausência do pai ou decorrentes de diferentes tipos de abuso — é seguida pela autoestima muito baixa.
Em Teleios, ao escrever um capítulo inteiro para tratar dessa ferida, Larry adverte que o fracasso da paternidade é uma das razões fundamentais da desintegração de famílias, do crescimento das epidemias sociais, do desrespeito pela autoridade e de uma hoste de males que assolam a sociedade como um todo. Na obra, ele compartilha uma mensagem de superação: mostra como a ferida paterna pode ser curada e como um homem que reconhece que falhou pode reverter suas ações e buscar cura e reconciliação emocional e relacional.
“Um pai que diz ‘Estou errado, por favor, me perdoe’ traz mais cura do que se pode imaginar. Não se pode desfazer o passado, mas um pedido de desculpas pode iniciar um impressionante processo de cura”, declara.
“Um pai que diz ‘Estou errado, por favor, me perdoe’ traz mais cura do que se pode imaginar. Não se pode desfazer o passado, mas um pedido de desculpas pode iniciar um impressionante processo de cura.”
Larry Titus em Teleios: o homem completo
Ainda na entrevista à MC, Larry Titus aborda o padrão bíblico da masculinidade: “Com certeza não é machismo, músculos, destreza sexual ou uma personalidade bombástica. Nem é a posse de genitália masculina. O que define um homem é o desejo de amar, honrar e proteger a esposa; discipular os filhos; dar provisão à família; ser um exemplo de piedade na igreja e no mundo; e viver uma vida reta. É ser um homem gentil e amável, que considera os outros e é apaixonado por Jesus, por sua família e seus semelhantes”.
Uma nova história
Para Kevin Leman, doutor em psicologia, autor de vários best-sellers que visam à harmonia familiar, sempre é tempo de trilhar o caminho da restauração e do entendimento. Em Transforme sua família em cinco dias, livro em que dá uma série de dicas para que os pais gerem mais conexão com os filhos e sinergia no lar, ele menciona que muitos dos problemas que afetam tal convívio está no mau uso do tempo, na forma improvisada que os pais lidam com as demandas do dia a dia, nas falhas de comunicação e na inversão de valores ao estabelecerem prioridades.
Embora a vida seja difícil, sugere Leman, deve-se ser esperto, para estar no controle da situação e definir a direção e o destino desejado para a família. O momento de implementar mudanças é agora: “Todos nós temos de começar em algum lugar para conseguir fazer um progresso visível. Hoje é esse dia para você e toda a sua família”.
Nesse sentido, Gary Chapman, doutor em antropologia e autor da aclamada série de livros As 5 linguagens do amor, também acredita que é possível trilhar uma rota de superação e (r)estabelecer vínculos emocionais outrora danificados. A série conta com dois livros dedicados a pais e mães: As 5 linguagens do amor das crianças e As 5 linguagens do amor dos adolescentes, que trazem abordagens específicas para o convívio com filhos nessas diferentes faixas de idade.
Dentre as informações especializadas que compõem ambas as obras, Chapman destaca a importância do “tanque emocional cheio”, o modo como a criança ou o adolescente comunica amor e percebe que é amado. Para “enchê-lo”, os pais precisam identificar os pontos de contato com o coração dos filhos, para que o relacionamento seja frutífero, empático e permeado de respeito e proximidade. Uma das linguagens do amor trabalhadas por Chapman lida justamente com a questão do tempo de qualidade entre pais e filhos.
Ao escrever para pais de adolescentes, período em que é vital estar atentos para não se distanciarem ainda mais, Chapman adverte que passar pouco tempo com os filhos por causa de divórcio, horários de trabalho ou outros fatores coloca em risco a percepção do adolescente de que está ligado à família. Assim, para que os filhos se sintam ligados aos pais e, portanto, amados por eles, precisam passar tempo juntos. “O adolescente que se sente abandonado terá de lidar com dúvidas do tipo: ‘O que há de errado comigo? Por que meus pais não se importam comigo?’. Se os pais querem que o adolescente se sinta amado, precisam arranjar tempo para estar com ele”.
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