“É fundamental que o cristão esteja atento para que não seja vítima de um sistema religioso que está totalmente afastado do projeto de Deus para a igreja e a vida cristã”, Antônio Carlos Costa em “Azorrague: os conflitos de Cristo com instituições religiosas”
A seguir, você lerá um trecho do livro Azorrague: os conflitos de Cristo com instituições religiosas. Na obra, Antônio Carlos Costa sugere uma reflexão imprescindível por denunciar um problema real e grave: o potencial tóxico que há em certos círculos religiosos quando eles se tornam destituídos de misericórdia, graça, compaixão e amor.
Conforme aponta o autor, a teologia não regulada pelo evangelho expõe os seres humanos às mais diferentes espécies de desatinos teológicos, bizarrices morais e extravagâncias espirituais. Por isso, é fundamental que o cristão esteja atento para que não seja vítima de um sistema religioso que está totalmente afastado do projeto de Deus para a igreja e a vida cristã.
Bíblico, contundente e inspirador, Azorrague permite ao leitor redescobrir o Deus justo, amoroso e verdadeiro, tantas vezes encoberto pela prática religiosa legalista, moralista e autoritária. Um livro que o despertará para viver as boas-novas do evangelho de forma verdadeiramente autêntica e transformadora.
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Moralismo sem alma
Trecho de Azorrague, livro escrito por Antônio Carlos Costa,
Na passagem da mulher adúltera, testemunhamos a religião dedicada ao trabalho de deixar pessoas nuas em praça pública, expondo impiedosamente seus erros, deixando, assim, de seguir o princípio de que pecados não tornados públicos devem ser tratados de modo privado. Parte da missão da Igreja é dar visibilidade às pessoas, a fim de que se tornem objeto do amor. Aqui, contudo, a visibilidade é concedida para produzir vergonha, humilhação e condenação.
Os religiosos fazem aquela mulher ficar de pé no meio de todos. São incontáveis os casos de pessoas que tiveram a vida, o casamento e a reputação destruídos pelo ato de a igreja coagir pessoas a tornarem públicos os seus erros particulares. Isso não é coisa de cristão.
A intenção e o conteúdo do que os escribas e fariseus disseram a Cristo são profundamente reveladores de quanto as instituições religiosas podem usar a Bíblia para destruir vidas. Estão por trás da pregação que fere, adoece e mata: a péssima exegese, a leitura culturalmente condicionada das Escrituras, a utilização de versículos fora do seu contexto, o desconhecimento do espírito do evangelho e a falta de compaixão.
Quando chegamos a esse ponto, avulta a importância de sabermos nos proteger das instituições religiosas. Vivemos num mundo impressionantemente obscuro, no qual a humanidade cria um inferno para si mesma. Somos capazes de formar ambientes dentro dos quais não conseguimos viver.
Pense na ética do trabalho, por exemplo. Relações trabalhistas que fazem homens e mulheres trabalhar, mas viver sem razão. Explorados, mal remunerados, dedicados a tarefas desgastantes, envolvidos com longas jornadas de atividade repetitiva e enfadonha, exercendo sua vida profissional em ambientes insalubres. Homens e mulheres envelhecendo antes do tempo por força do lucro posto acima da santidade da vida humana. […].
Parte do sofrimento humano tem relação direta com o que fazemos uns com os outros. Esse espírito, que sufoca, adoece e mata, pode penetrar nas instituições religiosas. É o inferno com cheiro de vela, som de órgão, discursos grandiloquentes, colarinho clerical, tratados de teologia empoeirados.
Os escribas e fariseus usaram os livros de Levítico e Deuteronômio para destruir a vida de uma mulher. Observe que ela não é mencionada pelo nome. Não é Maria, Isabel ou Joana, portadora da imagem e semelhança de Deus; é, simplesmente, “a adúltera”. Sempre que a igreja perde de vista a singularidade da vida humana, chamando pessoas pelo nome do pecado que praticaram, e, assim, ignorando sua identidade de ser amado por Deus, expõe-se a funcionar mais como sistema prisional que pune do que como lar que acolhe.
Isso não é conversa piegas e sentimentalista. Vidas esmagadas pelo moralismo religioso testemunham sobre a necessidade de combatermos o mal tão presente no mundo das organizações eclesiásticas. É certo que muita confissão deixa de ser feita, muito tropeço moral é temido e muita tentação deixa de ser compartilhada porque não poucos sabem que, se forem flagrados no erro, confessarem seus equívocos e expressarem seus conflitos morais, serão traídos e expostos e não lhes restará fio de cabelo.
Não estamos lidando, nessa passagem, apenas com o mau uso da Bíblia. Percebe-se que ela foi pessimamente aplicada na vida da chamada “mulher adúltera” porque não havia sido aplicada corretamente na vida dos que dela se utilizavam. Usar corretamente as Escrituras Sagradas requer tanto cérebro quanto alma, tanto conhecer regras de interpretação quanto conhecer o próprio coração, tanto conhecer o próximo quanto conhecer a si mesmo, tanto conhecer a Palavra quanto conhecer o espírito da Palavra.
O modo como os escribas e os fariseus lidaram com a questão revela a completa desconexão entre sua atitude e o estado do próprio coração. O problema não está em tratar dos deslizes morais de alguém. É possível que pessoas tropecem. Admoestá-las é amor. Discipliná-las é forma de preservação da identidade e da saúde espiritual da igreja. O problema está na forma, no espírito, na intenção. […].
O púlpito ser ocupado por quem não é humilde de espírito, quebrantado de coração e doce de alma é maldição para a vida da igreja. Nada pior que um ministério não convertido. Se ele não se vir como pecador falando para pecador, sob o olhar de um Deus misericordioso, à luz do evangelho, sua Bíblia será usada para ferir. Os psicoterapeutas deveriam dividir o seu salário com pregadores que involuntariamente enviam para os consultórios gente adoentada pelas suas mensagens.
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2 Comentário
Caleb
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