“A missão de uma comunidade de fé é comunicar, não a si mesma, mas a mensagem de Jesus. A eficácia nessa missão depende do que a igreja diz e, sobretudo, do que a igreja é”, Israel Belo de Azevedo em ‘Missão urbana’”
A seguir, você lerá um trecho do capítulo Interação entre a comunidade cristã e a sociedade, escrito por Israel Belo de Azevedo em Missão urbana: Servindo a Cristo na cidade. Lançado em comemoração aos 30 anos do Seminário Teológico Servo de Cristo, o livro traz uma proposta bíblica, equilibrada e multidisciplinar sobre o papel da igreja nas metrópoles e aborda assuntos centrais de nosso tempo. Logo após o artigo, você confere uma sinopse da obra e o link de acesso à livraria virtual da MC. Boa leitura!
A importância da comunicação na missão
Por Israel Belo de Azevedo em Missão urbana
Moro na Tijuca, no oitavo andar do prédio de um vaidoso bairro da região central do Rio de Janeiro. De segunda a sexta, quando estou em casa, ouço uma música vinda da rua, cada dia num gênero diferente. Certa vez, tomado de curiosidade, olhei pela janela e pude ver, lá embaixo, um carrinho de pipoca, empurrado por um homem.
Desci. Fotografei. Postei as imagens numa rede social. Era um homem que acompanhava a pé seu carrinho, extravagantemente fantasiado de um modo pedido pela canção que saía
forte de seu veículo. Logo me disseram que era um porteiro de edifício que, após o expediente, vendia pipoca nas ruas. Ele encontrou um jeito de ser notado. Junto com seu milho, distribuía alegria pela cidade.
Esse pipoqueiro me lembrou outra personagem carioca, uns seis quilômetros ao sul. É um homem que vende amendoim torrado perto do Palácio Guanabara, sede oficial do governo
do estado, no bairro das Laranjeiras. Em dia fresco ou em dia quente, lá está o conhecido vendedor, trajado de terno e distribuindo flores.
Não há como não notar os dois vendedores ambulantes. Muito provavelmente nenhum deles leu Marshall MacLuhan, mas ambos entenderam a mensagem central do pensador canadense: na aldeia global que é o mundo, o meio é a mensagem. Eles são mestres da comunicação, a tarefa por excelência dos cristãos.
Os meios como extensão
Como sabemos, a comissão que Jesus Cristo deixou a seus discípulos é basicamente comunicacional. Evangelização é comunicação.
Jesus se aproximou deles e disse: “Toda a autoridade no céu e na terra me foi dada. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinem esses novos discípulos a obedecerem a todas as ordens que eu lhes dei. E lembrem-se disto: estou sempre com vocês, até o fim dos tempos”.
Mateus 28.18-20
Por uma necessidade de comunicação, o “ide” das traduções antigas tornou-se “vão” nas versões mais recentes. O verbo, em si, sinaliza apenas movimento. É o “façam discípulos”
que lhe dá sentido e constitui o verdadeiro mandato. Nesse sentido, o batismo é um símbolo para comunicar que houve evangelização e adesão ao evangelho. E, para se perpetuar, antes e sobretudo depois do batismo, o cristianismo precisa ensinar. “Vão”, “discipulem” e “ensinem” são, portanto, ações comunicacionais.
A missão de uma comunidade de fé é comunicar, não a si mesma, mas a mensagem de Jesus. A eficácia nessa missão depende do que a igreja diz e, sobretudo, do que a igreja é. Os que se aproximam do pipoqueiro da Tijuca ou do baleiro das Laranjeiras não o fazem em primeiro lugar por causa dos produtos que eles oferecem, mas por quem eles são.
Assim também, a mensagem cristã é primeiramente comunicada pelo modo como vivem os membros das igrejas cristãs. O conteúdo do discurso é importante, mas esse conteúdo
Parodiando McLuhan, o cristão é a mensagem. O anônimo autor da Epístola a Diogneto, um documento dos primórdios do cristianismo, já o dissera: “O que é na alma o corpo é no mundo o cristão”. Muitos séculos depois, seríamos lembrados pelo evangelista norte-americano D. L. Moody que, “de cada cem homens, um lerá a Bíblia, e os outros noventa e nove lerão os cristãos”. Não é à toa que, em grego, a palavra para “testemunha” e “mártir” é exatamente a mesma (martus).
A comunicação do evangelho, portanto, é num primeiro momento pessoal ou testemunhal, e só então institucional ou eclesial. Cada um de nós é um pipoqueiro, que tanto encarna sua mensagem que se funde e se confunde nela. Os demais esforços institucionais fracassarão se a mensagem pública não for uma extensão dos cristãos. Parodiando McLuhan mais uma vez, os meios são extensões dos cristãos.
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O trecho que você acabou de ler foi extraído do livro Missão urbana: Servindo a Cristo na cidade.
Publicação especial em comemoração aos 30 anos do Seminário Servo de Cristo, Missão urbana percorre todo o conjunto de disciplinas necessárias para uma apresentação bíblica, equilibrada e integrada acerca da ação da igreja no contexto urbano, geralmente marcado por desigualdade, maldade, solidão, estresse e pecado.
Por meio de temas que variam entre comunicação, espiritualidade, oração, ética, escatologia e questões pastorais, a obra reúne textos escritos por teólogos renomados, numa proposta multidisciplinar com enfoques específicos que vão desde a exegese e a teologia bíblica até a teologia sistemática e a teologia prática.
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